PROXECTO EPÍSTOLAS

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LOCALIZACIóN: Anadia

Epístolas
7 mencións
Data Relación Remitente - Destinatario Orixe Destino [ O. ] [ T. ]
Data Relación Remitente - Destinatario Orixe Destino [ O. ] [ T. ]
1960-11-18
Carta de Rodrigues Lapa a Paz Andrade. 1960
Anadia
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Rodrigues Lapa a Paz Andrade. 1960 en 18/11/1960

Anadia, 18 de novembro de 1960


Meu prezado Amigo

O livro que amavelmente me ofereceu não ficou esquecido. Fui-o lendo aos poucos, absorvido como ando por tarefas editoriais urgentíssimas, que me tomam todo o tempo; e também pelos preparativos, sempre complicados, do meu regresso ao Brasil. Desculpe pois a demora.
Agradeço-lhe a citação que faz do meu nome, num trecho crucial que define há muitos anos a minha orientação nos problemas da nossa cultura. A Galiza está na base dessa cultura, e sem o seu conhecimento não se pode conhecer Portugal. Pretendi ir mais além. Essa velha cultura irradiou pela América e encontrou no Brasil condições magníficas para o seu desenvolvimento. O que profundamente me agrada no seu livro é o reconhecimento do grande papel que o Brasil, como expoente da nossa cultura, está fadado a exercer no mundo, instituindo, depois da derrocada da América do Norte, que me parece certa, um outro estilo de viver, de pensar e de sentir. Não somos 70 milhões, como diz, já somos 80: o Brasil cresce vertiginosamente.
Creia-me, por tudo, seu amigo atento e obrigado.

Manuel Rodrigues Lapa

1969-06-27
Carta de Rodrigues Lapa a Paz Andrade. 1969
Anadia
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Rodrigues Lapa a Paz Andrade. 1969 en 27/06/1969

Anadia, 27 de junho de 1969.


Meu prezado Amigo

Agradeço-lhe penhoradamente o seu folheto sobre «A evolução transcontinental da língua galego-portuguesa». Parabéns: é um dos homens da Península que melhor compreende o extraordinário futuro que a explosão demográfica do Brasil reserva á nossa língua comum. O seu cálculo de 100 milhões já hoje peca por menos. O último cálculo foi de 117 milhões e não contaram (estùpidamente, aliás) com o galego. Logo, ponha, sem hesitar, 120 milhões até ao fim deste ano. Não tardará muito que, na América, o galego-português seja a 2ª língua, logo depois do inglês. É um tema para meditações que devia estar presente a todos os galegos e portugueses.
Creia-me amigo atento e obrigado.

Manuel Rodrigues Lapa

1976-03-06
Carta de Rodrigues Lapa a Paz Andrade. 1976
Anadia
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Rodrigues Lapa a Paz Andrade. 1976 en 06/03/1976

Anadia, 6/3/1976


Meu estimado Amigo

Muito obrigado pela sua carta. O recorte que lhe enviei, como o meu parecer sobre a União Ibérica (que é, afinal, o parecer de 3 ilustres nacionalistas galegos), foi publicado no jornal lisboeta da tarde Diário Popular. Mando-lhe também hoje, acedendo ao seu pedido, as peças fundamentais deste processo, ou seja os artigos de Oliveira Marques no Expresso de 6/12/1975 e 7/2/76, e a entrevista de Oliveira Marques como o jornalista do Diário Popular, João Paulo de Oliveira, que é quem tem animado este debate, publicada nesse jornal em 20/2/76. Estive para tirar aqui em Coimbra fotocópia desses artigos, mais infelizmente em Coimbra não achei ninguém que as tirasse com perfeição, motivo por que lhe peço o favor de me devolver os artigos que lhe mando, quando já não lhe forem precisos. Se, entretanto, se publicar mais alguma coisa sobre o assunto, eu lho enviarei.
Creia-me amigo atento e obrigado.

Manuel Rodrigues Lapa

1978-08-16
Carta de Rodrigues Lapa a Paz Andrade. 1978
Anadia
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Rodrigues Lapa a Paz Andrade. 1978 en 16/08/1978

Anadia, 16/8/78


Meu bom e prezado Amigo

Recebi o rico presente que é o seu livro, A galecidade na obra de Guimarães Rosa, que do coração lhe agradeço. Já o percorri ao de leve; vou lê-lo a fundo, com o maior interesse, e depois lhe direi a minha opinião. Para já, posso adiantar algumas considerações de ordem geral.
O grande escritor mineiro representa efectivamente a velha raiz galego-portuguesa, fundamentalmente implantada em Minas Gerais e ainda vigorosa na fala, nos costumes e no temperamento do homem do sertão (o mineiro é considerado, em defeitos e virtudes, o galego do Brasil). Com essa cultura e esse linguajar construiu Rosa os seus livros. Mas não tenhamos ilusões: não é com essa «estenografia literária» que se faz literatura. Quanto a mim e outros mais, a obra pioneira e revolucionária de um Mário de Andrade (Macunaíma) e de um Guimarães Rosa ficará como um exemplo curioso das audácias e desmesuras a que pode levar a escrita manejada por grandes escritores populistas. Ficará apenas como um documento linguístico, um exercício, por vezes genial, de estilo.
A língua literária não é isso, é justamente o contrário: superação, criteriosa e artística, da língua oral. Este principio, formulado por Bally, o fundador da Estilística moderna, foi aplicado por mim a um seu conterrâneo e meu amigo, o R. Otero Pedrayo, uma espécie de Guimarães Rosa sem genialidade nem sertão. E foi um desastre, como viu. Voltaremos a encontrar-nos e falaremos sobre esta matéria, pois ainda há muito que dizer.
Um abraço cordial e agradecido do seu velho amigo,

Manuel Rodrigues Lapa

1979-06-26
Carta de Rodrigues Lapa a Paz Andrade. 1979
Anadia
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Rodrigues Lapa a Paz Andrade. 1979 en 26/06/1979

Anadia, 26/6/79


Meu bom e prezado Amigo

Desculpe a demora em agradecer a oferta do seu livro, Cem chaves de sombra, onde, mais uma vez, o homem destemido faz da poesia a arma da sua luta pela Terra que o viu nascer. O «Pequeno testamento» é, a tal respeito, uma peça antológica. Parabéns pelo seu livro. A Galiza está precisando de homens assim: que vejam claro e obrem consequentemente, e sobretudo rapidamente; quando não, a cultura e a língua têm os dias contados.
O Sá da Costa mandou-me a fotocópia da sua carta, que muito apreciei. Diz muito bem: cumpre reabrir o triálogo. É o que venho fazendo de há muito. Como prova disso, envio-lhe o recorte de um artigo publicado no dia de Camões, o nosso santo padroeiro, que uma vez chamou «sórdidos» aos galegos, por atraiçoarem a fraternidade que deve sempre existir entre eles e os portugueses. Foi em nome desse ideal que amaldiçoou desse jeito os seus próprios avós galegos, um (Vasco Peres de Camões), prisioneiro, outro (Airas Peres de Camões), morto na batalha de Aljubarrota. É indispensável esclarecer todos estes incidentes históricos e varrer a estrada para a nossa reconciliação. O antilusismo recalcado parece ter ressurgido, de modo selvagem, na polemica desencadeada nos jornais em torno do problema da língua. A imagem da Galiza e sua cultura não fica honrada com tais destemperos. Tenho as peças fundamentais desse processo. O que não sei é se as terei de deitar ao lixo, ou se as terei de aproveitar para fazer o estudo da intelectualidade galega dos nossos dias.
Cumprimenta-o cordialmente o amigo obrigado,

Manuel Rodrigues Lapa

1983-04-26
Carta de Rodrigues Lapa a Paz Andrade. 1983
Anadia
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Rodrigues Lapa a Paz Andrade. 1983 en 26/04/1983

Anadia, 26 de Abril de 1983


Meu bom e prezado Amigo

Com amistosos cumprimentos meus, tenho o prazer de lhe enviar um trabalho sobre o problema da reintegração linguística galego-portuguesa, que me vem ocupando desde há muitos anos, como sabe. Tendo completado há dias 86 anos, tenho razão para crer que este será o meu canto de cisne sobre a momentosa questão.
Foi preparado para se publicar na Revista Brasileira de Língua e Literatura, dirigida pelo Prof. Leodegário de Azevedo Filho, que se prontificou a aceitar a colaboração de especialistas galegos, pondo a revista, como diz em carta de me escreveu, «à disposição da nobre causa da incorporação da Galiza, como nação, ao mundo luso-brasileiro». E como no final do artigo cito uma poesia sua, que vem muito a propósito sobre a reintegração da Galiza em sua esfera cultural, este meu modesto trabalho era-lhe devido por todas as razões. Peço-lhe que o aceite, com o abraço de velho e agradecido amigo,

Manuel Rodrigues Lapa

1983-06-12
Carta de Rodrigues Lapa a Paz Andrade. 1983
Anadia
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Rodrigues Lapa a Paz Andrade. 1983 en 12/06/1983

Anadia, 12 de junho de 1983


Meu bom e prezado Amigo

Não sei se lhe agradeci, como era meu gosto e meu dever, o livro deveras monumental que dedicou ao Galego nº 1, que foi e será sempre Castelao. Tenho estado doente, prolongadamente enfermo; e as cartas para responder, os livros para agradecer empilham-se no meu escritório; e o meu médico, que também é meu amigo, aconselha-me repouso! Queira perdoar-me: foi esta a vida que eu escolhi.
Tive grande prazer, ao encontrar entre os manuscritos de Castelao a fotocópia daquela carta que ele escreveu ao grande historiador Cláudio Sánchez de Albornoz sobre o galego e o português. É muito para meditar o que ele nessa carta diz: o galego só será verdadeiramente uma língua de cultura, quando vier a confundir-se com o português, como sucede com o português escrito do Brasil. E não o incomodo mais por hoje. Creia-me sempre amigo muito atento e agradecido,

Manuel Rodrigues Lapa