PROXECTO EPÍSTOLAS

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LOCALIZACIóN: Rio de Janeiro

Epístolas
32 mencións
Data Relación Remitente - Destinatario Orixe Destino [ O. ] [ T. ]
Data Relación Remitente - Destinatario Orixe Destino [ O. ] [ T. ]
1979-01-10
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1979
Rio de Janeiro
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1979 en 10/01/1979

Sítio Pois é, 10.I.1979



Caros Amigos D. Maria Pilar e Dr. Valentin,

Muito obrigado pelo lindo cartão de Natal e pelos votos de feliz Ano Novo, que retribuímos de todo o coração. Ficaríamos felizes se os pudéssemos acolher aqui no decorrer deste 1979.
Gostei demais de saber que o seu livro sobre Guimarães Rosa está tendo na Espanha a devida repercussão.
Lemos notícias sobre o rigor do inverno na Galiza. Esperemos que o tempo já se tenha abrandado.
O Dr. Austregésilo Athayde foi reeleito presidente da Academia Brasileira de Letras. Ele continua no cargo firme que nem o Pão de Açúcar. O arranha-céu da Academia ficou pronto e será inaugurado proximamente. O último acadêmico que morreu foi Hermes Lima: o seu lugar está sendo disputado entre a escritora Dinah Silveira de Queiroz e o jurista Pontes de Miranda.
A Editora José Olympio está-se recuperando da crise. Estou na serra desde 12 de dezembro, em parte veraneado, em parte trabalhando no meu Dicionário Português-Francés (o Francés-Português está em impressão).
Aceitem meus abraços cordiais e os de Nora.



Paulo

1979-07-15
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1979
Rio de Janeiro
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1979 en 15/07/1979

Nova Friburgo, 15-7-79


Querido Amigo Valentín Paz-Andrade,

Quando a sua carta de 22 de maio chegou ao Rio, eu estava dando um curso de trinta aulas em Belo Horizonte. Ao voltar, logo fiquei envolvido nos preparativos de minha mudança. Afinal, mudamo-nos para cá no dia 6 deste mês. Na paz destas serras pude enfim ler Cen chaves de sombra e agora posso responder à sua carinhosa carta.
Fiquei tristíssimo ao saber da morte do prefaciador e do ilustrador do seu livro. Lembro-me de ter visto quadros de Luís Seoane na Galicia. Quanto o Lorenzo Varela, o seu «Limiar» e o seu «Homenaxe Cativo» dão uma idéia de seu alto valor. Dou-lhe pêsames sentidos pela morte desses dois amigos fraternos.
O seu livro interessou-me prodigiosamente. Nele há de tudo: lirismo e épica, reminiscências poéticas de autobiografia e historia nacional, balada popular e poesia culta, meditação e balanço. Por meio dele, pode-se reconstruir o que foi a sua existência durante tantos anos trágicos. A mim também aquelas datas dizem muito. Na longínqua Hungria nós também sofríamos com as notícias terríveis que de 1936 em diante nos chegavam da Espanha. Já prevíamos naquele um ensaio do futuro que o nazismo nos preparava; e efetivamente, já em 1940 eu me encontrava num campo de concentração, de onde no ano seguinte partiria para o exílio. Sofríamos com a Espanha e a Galicia, embora quase nada soubéssemos a respeito delas. Agora que as conheço, que lhes entendo a língua e a mensagem, que nelas conto amigos queridos, que basta fechar os olhos para rever-lhes as paisagens –agora é que posso sentir retrospectivamente tudo o horror daquela época.
A sua poesia tem unha vibração particular: mesmo quando alude aos acontecimentos da sua própria vida, sente-se que você fala em nome de uma coletividade; e respira-se em toda ela uma dramaticidade profunda, aguçada pela íntima inspiração folclórica. Dou-lhe parabéns pela sua força, pelo seu dom de comunicação e por ter captado de maneira tão sensível o «genius loci». E felicito-o por não ter abandonado a poesia no meio das vicissitudes de uma vida tão ativa e por servir-se dela para exaltar a memória dos amigos mortos. O seu volume é uma obra de arte e um monumento: para mim completa a imagem que guardara da Galicia no fundo do coração.
No começo desta carta falei-lhe da minha estada em Minas Gerais. Aproveitei um fim de semana para dar um passeio a Cordisburgo, cidade natal do nosso inesquecível Guimarães Rosa. É um lugarejo minúsculo, de ar puro e rara beleza. Pensei em você na casa em que ele nascera e que hoje é museu.
Soube com prazer da excelente repercussão do seu livro sobre A galecidade na obra de G.R. em Cuba sob a pena do escritor Helio Dutra Domínguez. Ele tem razão ao indicar-lhe o acadêmico Antônio Houaiss como pessoa capaz de apreciar o seu ensaio (e, acrescento, a sua poesia também). O endereço de Antônio Houaiss é Avenida Epitácio Pessoa 4560, ap. 1302, Rio de Janeiro, 22471.
Como lhe disse, depois de passar 72 anos em capitais, acabamos de nos mudar a unha casa na serra (onde espero poder acolhe-lo um dia em companhia de D. Pilar). A mudança é grande demais. Por enquanto estamos organizando uma rotina para a nova vida e arrumando a biblioteca (O volume de Adovaldo Fernandes Sampaio deve encontrar-se em algum lugar entre os dez mil volumes ainda empacotados, logo que o encontre. Vou remetê-lo para o seu endereço) Espero poder dedicar o tempo que me resta à leitura e ao estudo.
Na verdade, mudamo-nos antes do que esperávamos. Nora só vai ausentar-se em setembro, mas prefere descer daqui uma vez por semana a permanecer no Rio. Neste momento, aproveitando-se das férias, estão conosco minha filha Laura, que estuda música na Universidade de Nova Yorque e a outra filha Cora, jornalista em Brasília, que trouxe consigo o marido, e os dois filhos. Procuramos aproveitar ao máximo esta rara oportunidade de ter a família reunida.
Drummond acaba de passar uma temporada na Argentina, o que me impedia de entregar-lhe em mão o seu livro de versos: mais deixei-o na casa dele com um bilhete.
Com meus respeitos a D. Pilar, aceite, caro Amigo, um abraço afetuoso de seu fiel


Paulo


PS. Nora manda-lhes saudações cordiais.

1979-08-11
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1979
Rio de Janeiro
Vigo
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1979 en 11/08/1979

[Nova Friburgo] 11.8.79


Meu Caro Amigo,

Encontrei o livro Voces femeninas de la poesia brasileña de Adovaldo Fernandes Sampaio e remeti-o para o seu endereço há uma semana. A leitura de outro livro (O Sol na Rede) desse mesmo autor convenceu-me de tratar-se de pessoa pouco correta, useira e vezeira em plágios.
Espero que minha carta de 15 de julho lhe tenha chegado às mãos.
Respondendo à pergunta de sua carta de 11 de julho informo-o de que até agora não recebi nenhuma cópia da minha conferência de Vigo, reproduzida na revista Grial. Aceite, com recomendações respeitosas para D. Pilar, um abraço amigo do seu fiel



Paulo

1979-12-06
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1979
Rio de Janeiro
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1979 en 06/12/1979

[06-Dezembro-79]



Querido Amigo Valentín Paz-Andrade,

Ao voltar da minha recente viagem à Europa (recebeu o meu cartão postal?), tive o prazer de encontrar aqui 2 exemplares da revista Grial e número razoável de separatas da minha palestra de Vigo. Muito obrigado por mais esta fineza.
Aproveito a oportunidade para mandar-lhe, assim coma a D. Pilar, meus votos afetuosos de feliz Natal e Ano Bom.



Paulo Rónai

1980-01-01
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1980
Rio de Janeiro
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1980 en 01/01/1980

Sítio Pois é, 1º de janeiro de 1980


Caros Amigos Valentin Paz Andrade e D. Pilar,

Recebi e agradeço sinceramente seu belo cartão com votos de feliz Natal e Ano Bom. Nora e eu também lhes desejamos um 1981 cheio de saúde, paz e serenidade. Ficaríamos felizes de poder recebê-los neste sítio durante o Ano Novo.
Estou acabando o convite de José Olympio, um livro intitulado Rosiana, espécie de refraneiro-ideário do saudoso amigo João Guimarães Rosa. O Senhor será o primeiro a receber um exemplar.
Saudações carinhosas de



Paulo Rónai

1980-06-28
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1980
Rio de Janeiro
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1980 en 28/06/1980

Sítio Pois é, 28 de junho de 1980


Meu caro Amigo,

Estou sentindo falta de suas notícias. Entre seus mil afazeres de político, advogado, ensaísta e –last but not least- poeta terá um momento livre para informar-me de sua saúde e da de D. Pilar? Terá publicado alguma obra nova depois de Cen chaves de sombra? Já foram publicados seus artigos sobre seus saudosos amigos Lorenzo Varela e Luis Seoane? Aguardo-os.
Antigamente o Amigo vinha de vez em quando ao Brasil. Não está em seus projetos uma visita ao Rio? Definitivamente instalados em nossa casa de campo, gostaríamos tanto, Nora e eu, de que o Senhor e D. Pilar passassem algum tempo conosco. Ficamos aqui a duas horas e meia do Rio, a quase 1000 metros de altitude, num clima agradável e num lugar bonito. Nova Friburgo foi fundada há 150 anos por imigrantes suíços que se instalaram aqui por acharem a paisagem semelhante ás de seu pais de origem. Aqui temos instalações contíguas para os amigos e um dos nossos prazeres é recebê-los. Note, por favor, o meu telefone daqui (0245) 22 4134.
Desde novembro, quando estive na Bulgária e na Hungria, não mais sai do Brasil. A não ser algumas conferências dadas no Rio, em S. Paulo e em Brasília, tenho permanecido aqui. Nora também acabou por aposentar-se na Faculdade de Arquitetura. Pela primeira vez na vida, podemos entregar-nos unicamente a afazeres que nos agradam.
O trabalho que mas tempo me toma é Mar de Histórias, uma grande antologia do conto mundial. Não sei se já lhe falei dessa obra, cuja publicação foi começada por José Olympio em 1945 e abandonada em 1963, ate quando saíram quatro volumes. Agora a publicação foi retomada pela Nova Fronteira. São previstos 15 volumes dos quais três publicados, o quarto ao prelo, o quinto em vésperas de ser entregue. Para que tenha uma ideia do trabalho, estou-lhe remetendo o 1º volume. Grande parte da seleção e da tradução é feita por mim, o resto e toda a revisão por Aurélio Buarque de Holanda Ferreira.
Entre os 350 contos do mundo inteiro que a obra há de conter gostaria de incluir polo menos um conto galego. Na precisa coleção de livros galegos com que você me presenteou em Vigo há volumes de poesia, de ensaios, de história literária, mas não contos. Existirá uma antologia do conto catalão? Ficar-lhe-ia muito grato pela remessa de um livro destes. Não havendo, serviriam também volumes individuais de contos, como, por exemplo, Cousas de Castelao, Contos do camiño e da rúa, de Otero Pedrayo ou Do caso que lle aconteceu ó Dr. Alveiros, de Risco.
Estou-lhe enviando também,na mesma encomenda, meu ultimo livro publicado, Não perca o seu Latim, adagiário de latim, que talvez o interesse também em qualidade de advogado. Espero que lhe chegue ás mãos em ordem.
Aqui me despeço do caro Amigo, à espera de suas sempre gratas notícias, pedindo-lhe que apresente minhas gratas lembranças a D. Pilar. Nora manda abraços para ambos.
Afetuosamente

Paulo


P.S. Finalizando, ocorre-me outro pedido: de um dicionário galego-português ou galego-espanhol, que receberia também com muita gratidão...

1980-08-16
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1980
Rio de Janeiro
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1980 en 16/08/1980

Sítio Pois é, 16 de agosto de 1980


Caro Amigo Valentín Paz-Andrade,

Recebi a sua carta amiga de 21 de julho juntamente com Encrucilladas de Neira Vilas, e, também o lindo cartão datado de 10 de agosto de Trondheim. Muito obrigado por ter pensado em mim durante a sua breve passagem por esse lugar crucial da história européia.
Dou-lhe parabéns por ter afinal acabado de instalar a sua biblioteca não jurídica e grande parte da sua coleção de quadros na casa de Pousa Nova do Mar. Conheço a inquietude provocada por uma mudança demorada e o alívio que se sente quando finalmente se fixou os seus penates. Desejo-lhe saúde e felicidade na nova residência.
Uma grata notícia é a que me dá da sua biografia de Castelao. Graças à sua gentileza posso fazer uma idéia do valor desse grande galego como pintor e como ilustrador, pois li o seu Diário 1921, além do que o seu Pranto Matricial inspirou-me a vontade de conhecê-lo de mais perto ainda. Escrever essa biografia era para o Senhor uma obrigação fraterna. Faço votos para que as pesquisas projetadas o tragam quanto antes a Buenos Aires, pois assim poderemos tê-lo entre nós. (De qualquer maneira tome nota desde já do nosso número de telefone: 0245-22-4134, Nova Friburgo.) Tem razão de querer conhecer ao mesmo tempo a Bahia, que mesmo dentro do Brasil é um fenômeno único de cor, de sabor e de atmosfera. Deverei passar por lá em poucos dias, pois depois de amanhã embarco para Maceió, a capital de Alagoas, onde deverei pronunciar o discurso de saudação por ocasião do 70º aniversário de Aurélio. Na volta provavelmente pararemos em Salvador.
Os contos de Neira Vilas são concisos, poderosos e fortes –mas ainda não sei se será possível incluirmos em Mar de Histórias autores contemporâneos. Para esse fim preferiríamos contos galegos (de um ou dois autores) do fim do século passado e do começo deste. Da mesma forma um ou dois catalães, mas esses deveriam vir traduzidos em castelhano ou em português. Vou mandar-lhe dentro em pouco os vols. II a IV de Mar de Histórias para que tenha idéia mais nítida de nosso plano.
Recebi (e agradeci ao Dr. Fernández del Riego) as separatas de Grial com minha conferência em Vigo, mais não chegou ainda o nº dedicado a Luis Seoane, que aguardo com muito interesse.
Naturalmente li com alvoroço o próximo projeto do encontro galego-luso-brasileiro a ser organizado na Galiza e a idéia de minha eventual participação encanta-me. Devo confessar que para tal não me vejo qualificado, nem representante possível de qualquer entidade: mas se o seu engenho e a sua amizade encontrarem um pretexto honroso para a minha presença, iria honrado e procuraria não decepcioná-lo. Estou pensando numa palestra, p. ex. sobre «O português idioma universal no espelho da tradução».
Respondendo à pergunta de seu cartão postal confirmo que Carlos Drummond de Andrade esteve há algum tempo na Argentina, para assistir a melindrosa operação da filha Maria Julieta, diretora do Instituto Brasil-Argentina. Ela está fora de perigo, mas ao voltar, talvez de emoção, o próprio Drummond adoeceu de um herpes zoster. Espero que já se tenha restabelecido. Nessas circunstâncias não me parece provável que ele se decida a viajar, mas sempre vale a pena tentar. Seria feliz de ir com ele.
Com minhas lembranças respeitosas e as saudações cordiais de Nora para D. Pilar, aceite, querido Amigo, um abraço afetuosos de seu fiel


[Paulo]

1980-10-20
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1980
Rio de Janeiro
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1980 en 20/10/1980

Sítio Pois é, 20.10.80


Meu Caro Amigo,

Duas palavras apenas para acusar recebimento do número especial de Grial consagrado à memória de seu amigo Luis Seoane, talento nobre e múltiplo; li com sincera emoção as páginas dedicadas a ele, inclusive as suas.
Aqui nada de novo. Estou-lhe remetendo pelo correio marítimo os volumes II e III de Mar de Histórias.
Saudações afetuosas com minhas lembranças respeitosas a D. Pilar. Nora manda saudações.

Paulo

1981-02-06
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1981
Rio de Janeiro
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1981 en 06/02/1981

Sítio Pois é, 6 de fevereiro de 1981


Querido Amigo Valentin Paz-Andrade,

Recebi e agradeço a bela plaqueta sobre Lorenzo Varela. Li com emoção a biografia desse poeta e as duas elegias pungentes que lhe consagraram o Senhor e Xoan-Manuel Casado. E agradeço especialmente a idéia –que muito me tocou- de valorizar o presente pelas assinaturas dos escritores galegos.
Com meus respeitos a D. Pilar, aceite meu grato abraço


Paulo Rónai


P.S. Estou-lhe remetendo pelo correio marítimo, o vol. IV de Mar de Histórias.

1981-05-11
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1981
Rio de Janeiro
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1981 en 11/05/1981

Sítio Pois é, 11 de maio de 1981


Meu caro Amigo,

Acabo de receber o seu belo cartão da Irlanda. Ver que você se lembra de mim em seus passeios deixa-me comovido.
Nós aqui vamos indo. Há pouco tive uma alegria inesperada: a Federação Internacional de Tradutores atribui-me este ano o Prêmio Internacional de Tradução Nathorst, concedido de três em três anos a um tradutor . Sei que o meu caro Amigo vai alegrar-se com essa noticia.
Outro acontecimento que se deu recentemente: saiu na Hungria um volume de ensaios meus intitulado Latim e Sorriso. Foi uma sensação estranha ler-me traduzido por outro para a minha língua materna.
Com meus respeitos para D. Pilar, queira receber meu abraço muito cordial.


Paulo


P.S. Poderia mandar-me por gentileza, coma a possível urgência, dois exemplares do seu livro sobre Guimarães Rosa?

1981-08-30
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1981
Rio de Janeiro
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1981 en 30/08/1981

Sítio Pois é, 30 de agosto de 1981


Querido Amigo,

Perdoe o atraso com que agradeço os dois exemplares de A Galecidade na obra de Guimarães Rosa e o recorte de seu artigo sobre Não perca o seu latim. Seus comentários ao mesmo tempo pertinentes e generosos constituem para mim o mais valioso dos estímulos.
Nos últimos meses temos lido o noticiário proveniente da Espanha com intensa preocupação. Fazemos votos ardentes para que nada mais venha a perturbar a evolução pacífica começada sob tão bons auspícios.
Simultâneamente estou-lhe remetendo o vol.V de Mar de Histórias. O sexto deverá sair proximamente, o sétimo está sendo entregue ao editor; mas falta ainda terminar os volumes VIII a XV. Teremos vida e saúde para tanto?
Estamos tendo aqui um inverno bastante suave e bonito. Em junho e julho tivemos a companhia dos netinhos, cuja visita sempre nos alegra tanto. Desta vez, porém, a alegria ficou empanada pelo fato de os pais dos dois, nossa filha Cora e nosso genro, terem-se separado depois de onze anos de casados. O que nos consola um pouco é que estamos vendo a Cora com mais frequência, pois ela passou a trabalhar no Jornal do Brasil, do Rio. Nossa outra filha, Laura, veio de Nova Iorque passar as férias conosco, mas vimo-a relativamente pouco, pois em dois meses deu diversos concertos em 7 cidades.
Não sei se já lhe contei que por encomenda de minha editora estou trabalhando num vasto dicionário internacional de citações intitulado Entre Aspas, que toma todo o meu tempo. E a respeito a esse trabalho teria um pedido a fazer-lhe. O Amigo me conseguiria um exemplar de Greguerías de Ramón Gómez de la Serna?
Com meus respeitos para D. Pilar, mando-lhe um grato e afetuoso abraço do seu fiel amigo



Paulo Rónai


[Engadido a man na marxe:] PS. Comunique-me, por favor, o número do código postal de Vigo.

1981-11-19
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1981
Rio de Janeiro
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1981 en 19/11/1981

Sítio Pois é, 19 de novembro de 1981


Meu caro Amigo,

Como vão você e D. Pilar?
Recebeu a minha carta de 30 de agosto (na qual agradeci os 2 exemplares da Galecidade e o recorte de seu artigo, e pedi a remessa de Greguerías de Ramón Gómez de la Serna)?
Outro dia caiu em minhas mãos um exemplar de João Guimarães Rosa, de Luiz Otávio Savassi Rocha, livro interessante e bem escrito no qual tive o prazer de encontrar (às págs. 46 e 47) uma apreciação justa de seu estudo. Logo escrevi ao autor, pedindo-lhe um exemplar para você; ele mo mandou com sua dedicatória e eu acabo de encaminhá-lo para o seu endereço em encomenda separada.
De uma carta do autor, cito o seguinte trecho que há de interessá-lo:

«A propósito da ‘galecidade’ na obra de J. Guimarães Rosa, há uns poucos dias atrás em palestra proferida aqui em Belo Horizonte, o Prof. José Carlos Garbuglio, da Universidade de São Paulo, fez menção a um curioso episódio que passo a relatar, supondo não seja do conhecimento do Senhor:

Estando o cineasta Roberto Santos interessado em transpor para o cinema o conto A Hora e Vez de Augusto Matraga, perguntou a Guimarães Rosa qual seria a região geográfica mais adequada para a realização das filmagens, tendo recebido uma resposta evasiva, bem à feição do escritor mineiro: «-Num lugar com muita poeira e muita estrela». Ao se dirigir para o referido lugar, o cineasta teria encontrado dificuldades para entender a fala de seus moradores, insulados secularmente entre as montanhas, afastados da civilização litorânea. Como Roberto Santos estava em companhia de um galego, este veio em seu socorro e, para sua grande surpresa, confessou reconhecer na fala daqueles sertanejos resquícios do linguajar próprio da gente de sua província natal...».

[Engadido a man:] Aqui já é a minha carta que continua.
De resto, não há maiores novidades. Começou o verão, isto é, as chuvas: quer dizer que o nosso jardim está uma maravilha, com flores abrindo às centenas, lagartixas correndo, sapos cantando, beija-flores voando. Gostaria muito de recebê-lo um dia neste cantinho do Paraíso. Nesta esperança é que lhes desejo feliz Natal e Ano Bom,

Com saudações afetuosas


Paulo


Endereço de Luiz Otávio Savassi Rocha:
Rua Maranhão 1305, apt. 104, 30000 Belo Horizonte, MG

1982-02-03
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1982
Rio de Janeiro
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1982 en 03/02/1982

Sítio Pois é, 3 de fevereiro de 1982


Querido Amigo,

Tenho em mão o nº 73 de Grial, com a sua generosa resenha de Não perca o seu Latim, pela qual lhe sou sinceramente grato. No mesmo número li também o seu excelente artigo sobre o último livro de Drummond. Já mandou um exemplar ao poeta? Ele haveria de ficar muito satisfeito com a sua manifestação.
Espero que o Senhor e D. Pilar tenham começado bem o ano de 1982; como sempre, faço votos, para que este ano os traga de volta ao Brasil.
O nosso ano de 1981 finou de maneira muito feliz e pitoresca: nossa filha Laura, que viera de Nova Iorque passar as férias conosco, casou-se aqui no sítio em 3 de dezembro com o jovem pintor porto-alegrense André Porto. Entre dois meses de chuvas foi esse o único dia de sol, para alegria dos convidados: a cerimônia pôde ser realizada na varanda da nossa casa. O jovem casal já voltou aos EE.UU. para continuar os estudos (Laura em nível de pós-graduação).
Essa é a nossa maior novidade. De resto vamos indo dentro da nossa rotina sossegada.
Aceite um abraço cordial, com meus respeitos para D. Pilar.

[Engadido a man:] Cordialmente seu


Paulo Rónai

1982-03-29
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1982
Rio de Janeiro
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1982 en 29/03/1982

Sítio Pois é, 29 de março de 1982


Meu caro Amigo,

Devo-lhe diversos agradecimentos: pelos votos ao casamento de minha filha Laura; por ter dado meu endereço a seu filho; por ter-me remetido, por intermédio dele, as Greguerías e a linda cerâmica de Sargadelos, gentil lembrança de D. Pilar, que guardarei como testemunho da honrosa amizade de ambos.
Lamento sinceramente não ter podido apertar pessoalmente a mão de seu filho e agradecer-lhe a gentileza. Nós praticamente não mais descemos ao Rio, sobretudo não durante o calor, por conselho médico. Quando, pelo telefone, convidei o Dr. Alfonso a visitar-nos neste eremitério, infelizmente não lhe sobrava mais tempo assim o nosso encontro ficou para outra ocasião.
Soube por ele da doença de D. Pilar; espero que ao receber esta carta, ela já esteja totalmente restabelecida.
Leio com prazer as Greguerías; elas realmente não podiam faltar do meu dicionário de citações, no qual trabalho a todo vapor.
Estou ansioso a ler o seu livro sobre o grande Castelao. Ele desperta a curiosidade do leitor desde o titulo.
Da minha parte, esperava poder mandar-lhe, há tempos, a Rosiana, minha seleta de pensamentos e imagens do nosso Guimarães Rosa. Infelizmente a Livraria José Olympio ainda não se refez de crise em que se encontra há vários anos e, por enquanto, ela se restringe à publicação de reedições.
Seu filho deve ter-lhe falado da grave inflação que se observa no Brasil. Ela chegou a 120% por ano (ao passo que os nossos ordenados e aposentadorias foram reajustados apenas em 77%); ela está arruinando aos poucos toda a classe média. Suas consequências se fazem sentir também no mercado dos livros: devido ao grande investimento que exige a publicação de cada livro (o preço de venda de cada volume de Mar de Histórias é agora de 1000 cruzeiros!), os editores só querem publicar best-sellers de venda garantida.
Nossas noticias são estas. Aguardo as suas com carinho, mandando-lhe um forte abraço e meus respeitos a D. Pilar



Paulo

1982-08-24
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1982
Rio de Janeiro
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1982 en 24/08/1982

Sítio Pois é, 24 de agosto de 1982


Meu caro Amigo,

Estou respondendo ao mesmo tempo a suas duas cartas de 17 e 29 de julho. Nora e eu lamentamos muito o acidente de seu filho. Fazemos votos para que esteja completamente restabelecido ao receberem estas linhas.
Recebi, graças ao obséquio do Sr. Manuel Boullosa, o seu livro Castelao na luz e na sombra. Estou muito contente de saber que as reações do público são tão favoráveis. Até agora só pude folheá-lo e ver que é uma obra feita com muito amor e muito trabalho. E que bela apresentação! Quando o tiver lido, darei impressões mais pormenorizadas.
O Sr. Boullosa trouxe também o dicionário e a gramática do galego: muito obrigado. Aguardo apenas o contrato da Difel para começar o trabalho. Logo que lhe dê início, vou principiar a incomodá-lo com as minhas consultas, contando com a sua comprovada boa vontade.
Nós aqui vamos indo. O silêncio do sítio foi interrompido em julho, quando meus dois netos vieram passar férias. Esteve também conosco minha filha musicista, Laura, que está fazendo pós-graduação em Música em Nova Iorque, para onde vai voltar por esses dias. Com a partida dela a vida do sítio vai recair na rotina de sempre.
Nora junta-se a mim para mandar-lhes saudações afetuosas.


Paulo

1982-10-07
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1982
Rio de Janeiro
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1982 en 07/10/1982

Sítio Pois é, 7 de outubro de 1982


Meu caro Amigo,

Recebi e agradeço a sua amável carta de 23 de setembro e as explicações anexas. Tenho continuado a leitura atenta do livro. As dificuldades que encontrei, da pag. 40 à pag. 80, são as seguintes:

p. 56 vaso curricular
p. 71 a caróu do escritorio
p. 72 a ollo de seareiro
respostas, refrendatarias ou non

Alem disto, precisaria do texto exato das citações de Guilherme de Almeida (págs. 46-48), Vilma G. Rosa (58), Mário Palmerio (58), Cândido Motta Filho (59) e da nota 1 da pag. 63.
Aceite, com meus agradecimentos antecipados, um abraço cordial e meus respeitos para D. Pilar.


Paulo


Em tempo. Tal vez nos encontremos em futuro próximo, pois deverei representar a Associação Brasileira de Tradutores no 1º Congresso Ibero-americano de Tradução, a ser realizado sob os auspícios da Fundação Alfonso X o Sábio na Biblioteca Nacional de Madrid, de 7 a 11 de novembro. Ainda não sei onde estaremos hospedados (minha esposa virá comigo), mas meu amigo e correspondente em Madrid, Prof. Valentín García Yebra (telef. 252-4826; Conde de Cartagena 5, 2A) poderá informa-lo a respeito do meu endereço. Ficaria encantado de revê-lo nessa ocasião. Pretendo levar comigo as outras dúvidas a respeito da tradução.

1982-10-14
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1982
Rio de Janeiro
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1982 en 14/10/1982

Sítio Pois é, 14 de outubro de 1982


Meu caro Amigo,

Deve ter recebido já a minha carta de 7 do corrente, em que lhe relatava a possibilidade da minha próxima ida à Espanha. Dizia-lhe que de 8 a 13 de novembro provavelmente estaria em Madrid para tomar parte do Iº Congresso Iberoamericano de Tradução, organizado pela Fundação Alfonso X o Sábio na Biblioteca Nacional. Meu amigo, o Prof. Valentín García Yebra (Conde de Cartagena 5, 2A; telef. 252-4826) poderá informa-lo do meu endereço.
Hoje vão novas perguntas sobre dúvidas que encontrei na leitura atenta de seu livro. Por favor, prepare as respostas para mas entregar em Madrid. (Para mais segurança poderia mandar uma copia das respostas a este questionário e ao anterior a meu endereço de Nova Friburgo.)
Feliz com a perspectiva de revê-lo, subscrevo-me com a amizade de sempre e mando-lhe um grande abraço, com meus respeitos a D. Pilar


Paulo


PS. Com vistas a uma eventual reedição, assinalo-lhe um erro infiltrado em seu livro à página 57. O Paula Brito mencionado aí não era mulher, e sim o tipógrafo e jornalista Francisco de Paula Brito (1809-1861) em cuja tipografia trabalhou o jovem Machado de Assis.

1982-10-17
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1982
Rio de Janeiro
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1982 en 17/10/1982

Nova Friburgo, 17 de outubro de 1982


Meu caro Amigo,

Em anexo remeto-lhe uma quarta lista de duvidas. Na maior parte dos casos, entrevejo o sentido; ainda assim, para evitar erros possíveis, prefiro pedir, preventivamente, os seus esclarecimentos.
Como nas cartas anteriores, peço-lhe que escreva a resposta em duas vias, mandando uma pra Nova Friburgo, e guardando a outra consigo para nosso próximo encontro em Madrid.
Aceite minhas lembranças afetuosas, extensivas a D. Pilar.


Paulo


.
QUARTA LISTA DE DÚVIDAS

p. 123, l.21 o zodiaco galeiro
p. 125, 1.18 presencia autista
p. 125, 1.19 amea
p. 127, 1.1 tres horas arréu
p. 130, 1.10 cipos
p. 143, 1.11 trasega de oralidade
p. 147, 1.20 artiluxio
p. 158, 1.8 corrunchos
p. 159, 1.1 algún froito soado
p. 161, 1.4 penlas
p. 166, l.11 papelado empadroamento


Além disso na primeira citação de Levi-Strauss, p. 147, encontro a palavra ‘referides’ que deve ser um erro; é favor ver no original.

QUINTA E ÚLTIMA LISTA DE DÚVIDAS

p. 158, linha 10: ten a monograza da ubicuidade
p. 159, " 1: algun froito soado
p. 160, " 29: corticela
p. 163, " 30: hervas de arume
p. 176, " 16: baixo distinto ollar
p. 187, " 20: de refío
p. 190, " 11: empalladas idiomas
p. 196, " 3: sobreira
p. 200, " 2: transuntivos
p. 209, " 19: que servidor... olla (sentido en toda a frase)
p. 209, " 22: fiestra
p. 209, " 23: costeira do bonito
p. 210, " 33: E é quizaves, e sin quizaves...

1982-10-29
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1982
Rio de Janeiro
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1982 en 29/10/1982

Sítio Pois é, 29 de outubro de 1982


Querido Amigo e meu ilustre Procônsul da querida Galiza,

Recebi em boa hora e agradeço a sua gentilíssima carta de 23 do corrente. Junto vai a última relação de dúvidas: por favor, mande uma via de resposta para o meu endereço daqui e guarde a outra para entregar-me em nosso encontro de Vigo.
Quer dizer que aceito o convite com prazer e gratidão. Falaria ao público de Vigo sobre «O que é traduzir». Como o Congresso de Madrid terminará no dia 13, preferiria passar em Vigo os dias de 14, 15 e 16 de novembro; a conferência poderia realizar-se em qualquer um desses três dias.
Partirei do Rio no dia 5 de novembro sexta-feira pelo avião da Iberia que chega a Madrid na manhã do dia 6; peço-lhe que me telefone no dia 7, domingo, entre 9 e 10 horas da manhã, para o Hotel Los Galgos, Claudio Coello 139, tel. 91-262-6600, onde estarei hospedado.
Não da tempo para eu lhe mandar nesta carta as fotografias que me pede; mas tentarei levá-las em mão.
Felicíssimo com a perspectiva do nosso próximo encontro, mando-lhe um abraço afetuoso com meus respeitos para D. Pilar.


[Engadido a man:] Seu fiel amigo

Paulo



[Engadido a man:]

Em tempo.
30 de outubro de 1982

Tendo verificado os horários da Iberia no Rio, resolvi viajar para Vigo no sábado dia 13, pelo avião das 12h 30. Salvo contra-ordem da sua parte.


TERCEIRA LISTA DE DÚVIDAS

Pág. 66, linha 5 en volta d-unha atenuante
« 86, « 9 un crego de misa e ola
« 86, « 27 sin acougo nin tronce
« 87, « 14 querindonga
« 91, nota 19 refrás
« 93, linha 1 entorno vivencial
« 95, transvertimento
« 97, « 8 seus quinados repoboadores
« 100, « 31 deixalo en raleira
« 101, « 25 Se galego e português forem de daquela idiomas distintos
« 102, « 6 fiar as cadeixas de sua galecidade
« 103, « 25 primicialmente
« 105 trasega
« 114, « 17 de semellante enleo non sairía con cara
« 115, « 4 aboia
« 115, « 8 choutara


Precisaria do texto original da citação de Celso Cunha, à pág.99.

1983-02-16
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1983
Rio de Janeiro
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1983 en 16/02/1983

Sítio Pois é, 16 de fevereiro de 1983


QueridoValentín,

Reinstalado afinal em minha casa de Nova Friburgo, apresso-me em dar-lhe notícias e mandar agradecimentos.
Primeiro os agradecimentos: pela sua carta amiga de 25 de novembro (que me alcançou em França), pela cópia da 4ª folha de respostas às dúvidas e pelo exemplar de Nuevo Índice, com o seu magnífico artigo sobre Mar de Histórias, o mais generoso e completo de quantos já foram consagrados à nossa trabalhosa antologia.
Deve ter recebido o cartão que Nora e eu lhes mandamos da Hungria, onde passamos 45 dias, período intenso, cheio de experiências e emoções. Convidados do governo nos dez primeiros dias, no restante do tempo vivemos num apartamento alugado e participamos de perto na vida diária de um país socialista. Visitamos certamente uma centena de pessoas, o que significa mergulhar na existência e nos problemas de outras tantas famílias. Era ilusão minha que durante a minha estada na Hungria conseguiria trabalhar: em todo aquele tempo não tivemos uma hora livre e saímos de lá sem ter realizado a metade sequer de nosso programa.
Antes de tomarmos o avião de volta em Madrid, fizemos uma visita à loja da Fábrica de Sargadelos, deixando uma lembrancinha à nossa querida amiga e anjo tutelar D. Pilar e ao gentil casal Isaac-Mimina, que tão cortesmente nos tinha acolhido. Foi uma boa ocasião para evocar as horas inesquecíveis de nosso passeio pela Galiza.
Depois, eu voltei ao Rio e Nora foi a Nova Iorque, onde está passando uma temporada com a filha. Encontrei no Rio uma canícula das piores e logo que pude refugiei-me nestas serras. Depois de passar alguns dias a tomar conhecimento da correspondência chegada em minha ausência, já retomei a rotina, quer dizer: recomecei a tradução da Galeguidade de Guimarães Rosa, em que estou trabalhando a um ritmo regular, esperando que nada me venha interromper até acabar.
Na expectativa de que estas linhas os encontrem em perfeita saúde a você e a Pilar e que seu Filho se encontre completamente recuperado, mando-lhes, em nome também de Nora, nossas lembranças mais gratas e nossos votos sinceros de feliz Ano Novo pelo que resta de 1983.
Afetuosamente seu



Paulo


ÚLTIMAS DÚVIDAS

p. 47 os seus xuicios cirandan a obra concursante
p. 54 baixo pseudônimo de não dava nas ventas
p. 100 De boas a primeiras, descobrimos
p. 101 se galego e português foram de aquela idiomas distintos
p. 112 que tre seu orixe do francés chalense. (Não conheço essa palavra frnacesa; será assim mesmo?)
p. 114 de semellante enleo non sairia com cara
p. 147 un treillis lâche de bambous referides (Não conheço essa palavra francesa; sera assim mesmo?)
p. 196 os seus desembruxos e combinados
p. 196 retorização sobreira
p. 209 que é a FAO?
P. 209 ... que servidor, ao fin e ao cabo un escritor de imaxinación, olla como agora mesmo Cornide de Saavedra o ten nas mans, suxeto de lenta e preocupada leitura, sentado a carón d-unha fiestra que deixa ver o porto coruñés cos pesqueiros que aparellan para a costeira do bonito...
(Não entendo bem esta frase, nem a sua ligação com a anterior)

1983-04-02
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1983
Rio de Janeiro
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1983 en 02/04/1983

Sítio Pois é, 2 de abril de 1983

Meu Caro Amigo,

Estou aguardando notícias suas e de D. Pilar em resposta à minha carta de 16 de fevereiro, em que lhe anunciei a minha volta a Friburgo. Deste então Nora, que tinha ido passar um mês com a filha nos Estados Unidos, voltou também e nós recomeçamos a vida de sempre.
Escrevi-lhe que estava trabalhando na tradução do seu livro. Acabei-a ontem; falta agora datilografa-la. Por isso não a pude entregar à Difel em 1º de abril, data marcada no contrato; mas já avisei o Sr. Fernando Baptista da Silva de que teria a tradução pronta em mão em 15 de maio.
Numa segunda leitura encontrei ainda alguns pontos duvidosos, que relaciona na folha anexa; por favor, esclareça-os quanto antes.
Neste interim remeti-lhe o vol. VI de Mar de Histórias; espero que o receba em ordem.
Aceite minhas saudações afetuosas e minhas recomendações para D. Pilar.


Paulo


Nora manda lembranças.

1983-04-23
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1983
Rio de Janeiro
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1983 en 23/04/1983

Sítio Pois é, 23 de abril de 1983


Querido Valentín,

Recebi a sua carta amiga de 14 de abril com as explicações anexas. Muito obrigado pela pronta resposta.
Lamento dizer-lhe que, mesmo depois da sua explicação, continuo não entendendo o seguinte trecho da pág. 209:

«... que servidor, ao fin e ao cabo un escritor de imaxinación, olla como agora mesmo Cornide de Saavedra o ten nas mans, suxeto de lenta e preocupada leitura, sentado a carón d’unha fiestra que deixa ver o porto coruñés cos pesqueiros que aparellan para a costeira do bonito, ou zarpan para o Grande Sole.»

Por favor, mande-me uma tradução do trecho em francês ou em inglês (em espanhol não serve) que me permita perceber a sua estrutura lógica. Se continuar não entendendo, terei que suprimir o trecho todo.
Gostaria de saber se você quer reproduzir na edição brasileira as ilustrações da galega. Seria neste caso bom remeter para a Difel as fotografias originais, porque não sei se as do livro dariam boa reprodução. Em se tratando do público brasileiro, que já viu essas fotografias ou muitas semelhantes, a reprodução me parece dispensável.
Diga-me também se acha necessário, na edição brasileira, um índice de nomes próprios; sua confecção atrasará ainda a publicação.
Não se admire se Aurélio não lhe agradeceu a remessa do Nuevo Índice. Ele está doente e a enfermidade impede-o de escrever.
Vou tentar conseguir a reprodução do seu artigo nalguma revista ou Suplemento Literário. O do Estado de S. Paulo não me é acessível.
Em nome de Nora e no meu agradeça à querida Pilar suas linhas amáveis. Nora manda em anexo algumas das fotos feitas durante a nossa estadia (as duplicadas, com cumprimentos, para D. Isabel).
Saudações afetuosas


Paulo

1983-06-10
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1983
Rio de Janeiro
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1983 en 10/06/1983

Sítio Pois é, 10 de junho de 1983


Caro Valentín,

Duas palavras apenas para dizer-lhe que recebi a sua amável carta de 17 de maio. Já tinha entregado a Difel a minha tradução no dia 16; graças à sua explicação pude completar o parágrafo duvidoso do discurso de Álvaro Cunqueiro e remetê-lo à editora alguns dias depois. Agradeço o auxilio de seu filho Alfonso.
Pedi a Difel que me mandassem, para revisão, as provas paginadas. Nessa ocasião entregarei o índice do livro assim como o texto das orelhas. Quanto às fotografias, você deve ter-se entendido com o Sr. Fernando Baptista da Costa.
Aguardo o seu artigo sobre os oitenta anos de Drummond. Procurarei Eduardo Portela para que o reproduza em sua revista.
De resto nada novo. Minha vida sossegada em Friburgo não tem acontecimentos afora o trabalho. De momento, estou empenhado em terminar o dicionário de citações em que trabalho há vários anos.
Aceite um abraço cordial e meus respeitos a Pilar. Nora manda-lhes lembranças afetuosas.



Paulo

1983-08-28
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1983
Rio de Janeiro
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1983 en 28/08/1983

Sítio Pois é, 28 de agosto de 1983


Caro Valentín,

Acabo de receber cópia de seu excelente artigo sobre Drummond. Mando-o logo para o endereço dele, depois de tirar uma cópia xerox para Eduardo Portela. (Não pude falar com Drummond, que se interna hoje numa clínica para submeter-se a uma operação. Espero que tudo corra bem ao nosso poeta ultrajovem.)
Outro ultrajovem é você, a julgar pela sua continua atividade, especialmente pelas conferências que vai fazer no curso de verão da Universidade Internacional Menendez y Pelayo -tenho a certeza de que com muito êxito.
O Sr. Fernando Baptista da Silva voltou da Europa (Portugal e Paris) e remeteu-me há dois dias as 2as provas da Galeguidade. Vou entregá-las devidamente corrigidas, no dia 1º de setembro à sucursal da Difel no Rio, juntamente com o índice e o texto das orelhas.
Fico-lhe grato pela sugestão de incluirmos contistas galegos no Mar de Histórias: Valle-Inclán, Castelao, Blanco Amor. Gostaríamos muito de fazê-lo, mas faltam-nos originais. Você poderia fornecê-los?
O estado do nosso Aurélio continua estacionário. Ele tem ainda a mesma dificuldade em escrever.
Talvez o interesse saber que a Academia Brasileira de Letras me distinguiu com o Prêmio Machado de Assis para 1983, por conjunto de obra. O mesmo prêmio já foi dado a Gilberto Freyre, Guimarães Rosa, Rachel de Queiroz, etc.; sou o primeiro brasileiro naturalizado a recebê-lo.
Com nossas recomendações, minhas e de Nora, para Pilar, aceite um abraço muito cordial do seu amigo, admirador, prefaciador e tradutor



Paulo

1983-11-16
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1983
Rio de Janeiro
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1983 en 16/11/1983

Sítio Pois é, 16 de novembro de 1983


Querido Valentín,

Recebi a sua carta amiga de 27 de outubro. Muito abrigado pelos seus parabéns a propósito de meu Prêmio Machado de Assis.
Neste interim chegou-me a edição brasileira da Galeguidade, feito com cuidado e bom gosto. Até agora descobri apenas uma falha: na epígrafe de meu prefácio, a frase de Lorenzo Varela: «E sempre, sempre, sempre em Galiza...» saiu assim: «E sempre...».
Quanto à organização de tardes de autógrafo no Rio e em São Paulo, ela é da competência exclusiva da editora e não depende de nenhum crítico. *
Li com alvoroço as notícias que me dá dos progressos de sua autobiografia e das conferências que tem dado; admiro cada vez mais a sua incansável energia.
Os artigos de Drummond publicados em agosto foram escritos antes da operação a que ele se submeteu; mesmo enquanto ele esteve no hospital, o jornal continuou publicando-os. Ele agora está bem; foi muito festejado por ocasião do 81 aniversário.
Em outubro, fui eu que tive de submeter-me à operação da próstata no mesmo hospital, pelo mesmo médico. Ainda me encontrava hospitalizado no Rio, quando minha casa de Friburgo foi arrombada e saqueada. Os ladrões, além de levarem muitos valores (jóias, dinheiro, roupas, armas) fizeram estragos consideráveis, que estamos consertando aos poucos. Felizmente a minha convalescência está-se processando satisfatoriamente.
Queira aceitar um abraço cordial, extensivo a D. Pilar e a seu filho.


Paulo



* Se vier ao Brasil pro essa ocasião, não deixe de incluir em seu programa alguns dias para uma visita ao Sítio Pois é (a 2h 30 do Rio de Janeiro).

1984-06-13
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1984
Rio de Janeiro
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1984 en 13/06/1984

Nova Friburgo, 13.06.1984


Caro Valentín,

Muito obrigado pelo belo cartão de Lisboa, prova bem-vinda de que está com boa saúde e em plena atividade e não esquece os amigos longínquos, mas fiéis.
Nós aqui vamos indo, cada vez mais adaptados à vida provinciana; mas não deixo de estudar e de trabalhar. Terminei há pouco a revisão das 1as provas do Dicionário de Citações, de que lhe espero mandar um exemplar até o fim do ano.
Nora e eu lhes mandamos, a você e a Pilar, nossas lembranças afetuosas




Paulo

1984-10-10
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1984
Rio de Janeiro
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1984 en 10/10/1984

Nova Friburgo, 10 de outubro de 1984


Queridos Amigos Pilar e Paz-Andrade,

Recebemos com prazer o lindo cartão que vocês nos mandaram de Sargadelos juntamente com os Diaz Pardo. Foi uma alegria saber que os bons amigos voltaram a reunir-se no lugar maravilhoso de que guardamos recordações tão belas e que nessa ocasião se lembraram de nós.
Nora e eu vamos bem, levado vida sossegada em nosso sítio. Tivemos há pouco uma grande alegria: nossa filha Laura, depois de 6 anos de estudos nos EEUU, voltou definitivamente ao Brasil junto com o marido pintor André Porto. Ela está com o título de «master» e vai procurar conseguir trabalho e colocação no Rio.
No Brasil a situação está crítica, com quase 300% de inflação por ano. Nosso amigo Drummond acaba de se despedir de seus leitores do Jornal do Brasil: vai parar de escrever crônicas. Aurélio está com as atividades limitadas pela doença. Por mim, continuo trabalhando devagar, agora sobretudo na revisão de meu Dicionário de Citações.
Recebam um abraço afetuoso de seu amigo

Paulo


Nora manda lembranças cordiais.



PS. O edifício amarelo no centro do cartão é o Colégio Anchieta, dos jesuítas, de onde Drummond foi expulso de quando jovem.

1984-11-19
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1984
Rio de Janeiro
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1984 en 19/11/1984

Sítio Pois é, 19 de novembro de 1984


Querido Amigo,

Como vão vocês? Estamos com muitas saudades do casal amigo. Mandem notícias.
Você encontrará anexo à presente um discurso do Prof. Luis Otávio Savassi Rocha, da Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais, conterrâneo de Guimarães Rosa e eminente estudioso de sua obra. Há nele oportunas referências à Galeguidade na obra de Guimarães Rosa, que devem interessá-lo. O endereço do Prof. Savassi Rocha é Rua Maranhão 1305, apto. 104, Belo Horizonte, 30000.
E, por falar em nosso livro, você gostará de saber que sua tradução me valeu o Prêmio Jabuti desse ano: é uma estátua de bronze oferecida pela Câmara Brasileira do Livro.
Depois de muita demora, acaba de sair o vol. VII de Mar de Histórias, de que já lhe mandei um exemplar.
Mais noticias daqui:
Carlos Drummond de Andrade encerrou suas atividades de cronista. Essa decisão, lamentada por seus leitores e por muitos articulistas, foi anunciada há mais de um mês numa crônica de adeus.
O nosso Aurélio continua doente, afetado que está do mal de Parkinson, que lhe dificulta escrever e até locomover-se.
A situação política do Brasil está muito inquieta por causa das próximas eleições presidenciais. O candidato do governo se vê ameaçado de perder, mas teme-se que o da oposição, se vencer, não venha a ser empossado. Enquanto isto, a inflação chegou a 300% ao ano. Nós outros tentamos viver sossegados no isolamento do nosso sítio, entre flores e bichos, e pensamos muito em você e em D. Pilar. Recebam nossas melhores lembranças e nossos abraços cordiais.



Paulo

1985-12-14
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1985
Rio de Janeiro
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1985 en 14/12/1985

Sítio Pois é, 14 de dezembro de 1985


Querido Amigo,

Fiquei satisfeito de saber, pela sua amável carta de 21 de agosto, que recebeu em ordem o Dicionário Universal de Citações e agradeço-lhe as considerações generosas que teceu a respeito desse livro. Felizmente, a obra, que me custou três anos de trabalho, foi bem recebida pelo público: uma segunda edição foi lançada em novembro e a Editora já está cogitando de uma terceira.
Ao mesmo temo fico-lhe especialmente obrigado pela oferta de Galiza lavra a sua imagem, livro multifacetado que interessa por tantos aspetos: literário, histórico, artístico, econômico, genético, e ao mesmo tempo possui forte unidade intrínseca. O conjunto desses dez ensaios constitui, na verdade, mais um canto de amor a Galiza. Certas páginas, especialmente as que dizem respeito à pintura galega, reavivaram a lembrança de minhas visitas aos museus de sua terra. Admiro cada vez mais a sua incansável pena.
Nesse interim deve ter-se realizado a Exposição Interacional da Pesca, presidida por seu Filho. Conhecendo a sua energia, suponho que o ajudou bastante na organização de acontecimento tão importante, colaborando eficazmente para o êxito.
Aqui não há maiores novidades. Em consequência talvez de minhas viagens a Porto Alegre e a Maceió tive em agosto algumas perturbações circulatórias, das quais porém consegui livrar-me. Passo a maior parte de meu tempo nas reedições do Dicionário de Citações.
O nosso Aurélio, infelizmente, não melhorou –mas continua trabalhando heroicamente na segunda edição do Novo Dicionário.
Drummond vai bem. Desde que não mantém mais sua seção do Jornal do Brasil, nosso contato epistolar ficou menos intenso. Há uns dois anos, no momento da crise da Editora José Olympio, seus contratos passaram para a Editora Record, que sucessivamente vai reeditando seus livros antigos, além de ter lançado dois novos.
No Brasil, a restauração democrática continua a solavancos. A situação econômica permanece grave: chegamos a uma inflação de 300% ao ano.
Com a aproximação das festas de fim de ano, Nora e eu desejamos-lhe assim coma a Pilar Feliz Natal e um ótimo 1986.



Paulo e Nora

1986-01-26
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1986
Rio de Janeiro
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1986 en 26/01/1986

Sítio Pois é, 26 de janeiro de 1986


Querido amigo Valentin,

Recebemos e agradecemos seus amáveis votos de feliz 1986 chegados no verso de um belo retrato de Castelao, que hei guardar com muito carinho.
Neste interim deve ter recebido a minha carta de 14 de dezembro. Desde então, não houve maiores novidades. Estamos tendo um verão muito chuvoso. No Rio a canícula atinge 44 graus na sombra; felizmente nestas montanhas o tempo está sempre fresco e agradável. Para a noite de Natal conseguimos reunir aqui a família toda –11 pessoas- o que tornou a data particularmente memorável.
Outro dia recebi pelo correio o livro Perfiles simbólico-morales de la cultura gallega, de Carmelo Lisón Tolosana (Akal, Madrid, 1975), mandado por remetente desconhecido. E poucos dias depois chegou-me a carta de que lhe envio em anexo uma cópia, por saber que há de interessá-lo. É de um leitor seu que, filho de galega, guarda o amor da terra dos antepassados. Uma manifestação espontânea como esta representa uma recompensa adicional do me esforço na tradução de A galeguidade na obra de Guimarães Rosa.
Tenho certeza de que saberá apreciar a gentileza do remetente e por isso ouse pedir-lhe que mande ao nosso amigo Melchior Janhel um exemplar de Galiza lavra a sua imagem, valorizado pela sua dedicatória.
Com meus agradecimentos antecipados, aceite um abraço cordial com cumprimentos para a querida Pilar, de seu fiel
.

Paulo


PS. Nora manda lembranças afetuosas.

1986-09-25
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1986
Rio de Janeiro
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1986 en 25/09/1986

Sítio Pois é, 25 de setembro de 1986


Querido amigo Valentin,

Acabo de receber a sua amável carta de 9 de setembro, acompanhada da cópia da que você escreveu ao Sr. Melchior Jahnel.
Bem que eu estava apreensivo com o seu longo silêncio e ia escrever-lhe para reclamar notícias. Agora soube com pesar o motivo do atraso; uma broncopneumonia que o manteve por longos meses doente, afastado de todas as atividades. Nora e eu ficamos penalizados e formulamos votos para que a sua convalescença seja rápida e completa. Guardamos de você a imagem de uma pessoa enérgica, ativíssima, entregue a muitas ocupações: não conseguimos imaginá-lo enfermo. Por favor, fique fiel a sua imagem.
Espero que o afeto da família, a solicitude dos amigos, assim como a concessão de distinções excepcionais de que foi alvo (a medalha de Ouro de Vigo e o Prêmio Trasalva), se não conseguiram curá-lo, pelo menos tenham suavizado o seu sofrimento.
No Brasil, tem havido mudanças importantes. Em fim de fevereiro, o governo, para pôr um paradeiro à inflação desenfreada, substituiu o cruzeiro pelo cruzado (1 cruzado valendo 1000 cruzeiros) e congelou os preços dos artigos de primeira necessidade. Essas medidas foram acolhidas com grande entusiasmo mas infelizmente estão aos poucos perdendo o impacto: começou a faltar carne, leite, ovos, etc., que só se conseguem com ágio, o que equivale a uma inflação disfarçada. Enquanto isto, os salários permanecem fixos e os impostos estão aumentando. As eleições previstas para novembro hão de mostrar se o governo continua dispondo da confiança do povo. As liberdades públicas foram restabelecidas, mas a crise econômico-financieira permanece crítica.
A nossa vida particular pouco mudou. Continuamos a viver em nosso sítio, de onde saímos cada vez menos, o que resulta num certo isolamento. Vendemos o nosso antigo apartamento de Copacabana: agora, quando descemos ao Rio, alojamo-nos em casa de nossa filha Cora. A não ser isso, fazemos poucas viagens.
Em abril fomos com um grupo de escritores a Lençóis Paulista (cidade onde existe uma rua com o meu nome) para assistir à instalação de computadores na Biblioteca Municipal Origenes Lessa (à qual costumo doar livros). Fazia parte do grupo o próprio Origenes Lessa, nosso grande amigo, que infelizmente veio a falecer semanas depois. Estava presente também o presidente da República José Sarney, e nós pudemos avaliar a sua popularidade, que no momento estava extraordinária.
Em maio, fomos a Porto Alegre: a Universidade de lá convidara-me para fazer o brinde no banquete dos 80 anos de Mauricio Rosenblatt, ex-gerente das editoras Globo e José Olympio. O banquete foi impressionante, com trezentos amigos festejando um livreiro aposentado. Visitamos também parentes e amigos que moram em Porto Alegre. A excursão teria sido ótima se um dia depois do banquete eu não tivesse sido agredido na rua por um assaltante, que me derrubou no chão com uma rasteira e roubou o dinheiro que guardava no bolso. Escapei com alguma contusões e escoriações –mas o incidente é um bom exemplo de insegurança em que atualmente vivemos no Brasil.
De volta a Friburgo, recomecei a trabalhar. A Editora Nova Fronteira, à qual tinha entregado meu dicionário francês-português e português-francês há mais de cinco anos, finalmente resolvera publicá-lo e me tinha pedido uma revisão e uma atualização. Depois disto ainda terminei o vol. IX de Mar de Histórias, que Aurélio está revendo agora. (O vol. VIII acaba de sair: daqui a pouco vou manda-lhe o seu exemplar.) Infelizmente Aurélio não vai muito bem. Ainda assim conseguiu terminar a 2ª edição, aumentada, do seu Dicionário. Quanto a Drummond, vai bem: as últimas vezes que quis visitá-lo houve desencontro, assim não nos vemos há mais de um ano. Há tempos ele interrompeu a sua colaboração regular na imprensa.
Enquanto isto, as estações se sucedem e o tempo corre num ritmo vertiginoso. Parece-me incrível que já tenham passado mais de três anos de nossa visita a Vigo, de que guardamos lembranças indeléveis.
Queira transmitir nossas lembranças cordiais a D. Pilar e aceite um abraço afetuoso de os votos de saúde de seus amigos



Paulo e Nora

1986-12-14
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1986
Rio de Janeiro
Vigo
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1986 en 14/12/1986

Sítio Pois é, 14 de dezembro de 1986


Querido Amigo,

Recebi a sua amável carta de 6 de novembro e dela soube com pesar que a sua saúde ainda não se restabeleceu por completo. Nora e eu custamos a imaginá-lo inativo e em descanso, e torcemos por sua rápida melhora.
Recentemente nós também ficamos com a saúde prejudicada. Enquanto eu me submeti a uma operação de hemorroidas, Nora fez extrair um pólipo. Infelizmente teve uma infecção causadora de septicemia e peritonite. Ficou um mês inteiro no hospital, depois passou 15 dias convalescente no Rio, antes de podermos voltar para cá. Agora estamos tentando recuperar-nos completamente no ambiente familiar e nos bons ares desta serra.
O mês de novembro foi ruim para nosso amigo Drummond também: teve de ser hospitalizado com uma crise de angina pectoris. Felizmente ao cabo de 10 dias pôde voltar para casa curado.
Acaba de sair a 2ª edição, ampliada e revista, do grande Dicionário de Aurélio. Saiu também, pela mesma editora, o vol. VIII de Mar de Histórias, que lhe remeti faz algum tempo. E foi publicado um romance de minha filha Cora, intitulado O Terceiro Tigre. (Até agora ela só tinha publicado livros para crianças, traduções e reportagens.)
A situação do Brasil continua difícil. A introdução do cruzado não conseguiu pôr fim a inflação. Faltam, ou só podem ser adquiridos com ágio, muitos artigos de primeira necessidade. Aguardamos impacientes uma estabilização.
Lembramo-nos sempre dos dias inesquecíveis passados na nossa querida Galiza.
Nora e eu mandamos ao querido amigo e a D. Pilar, com nossos abraços afetuosos, nossos melhores votos de feliz Natal e Ano BOM

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Paulo