PROXECTO EPÍSTOLAS

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Epístolas
Mencionado/a [13]
Data Relación Remitente - Destinatario Orixe Destino [ O. ] [ T. ]
Data Relación Remitente - Destinatario Orixe Destino [ O. ] [ T. ]
1978-05-31 Mencionado/a
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1978
Rio de Janeiro
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1978 en 31/05/1978

Rio de Janeiro, 31 de maio de 1978



Querido Amigo Valentín Paz-Andrade,

Agradeço-lhe ao mesmo tempo a sua carta de 10 de abril de Vigo e o belo cartão de Veneza. Ambos me despertaram fundas saudades por virem de lugares caros a meu coração.
Fiquei satisfeito de saber que recebeu a minha remessa dos livros de Guimarães Rosa, Aurélio Buarque de Holanda Ferreira e Carlos Drummond de Andrade.
Estou esperando com impaciência o seu livro A Galecidade na obra de Guimarães Rosa. Atendendo a seu pedido, aqui vão os endereços de alguns escritores e críticos merecedores de um exemplar. Mas seria interessante, antes de mais nada, o Amigo remeter um exemplar à Viúva de Guimarães Rosa, D. Aracy (R. Francisco Otaviano, 35, 5º and., Copacabana) e ao nosso comum amigo José Olympio Pereira Filho (R. Marquês de Olinda 12).

Eis a relação pedida:
Rio de Janeiro
Alceu Amoroso Lima, R. Paissandu 200. ap. 701 (Flamengo)
Antônio Houaiss, Av. Epitácio Pessoa 4560, ap. 1302 (Lagoa)
Cyro dos Anjos, R. Domingos Ferreira 242, ap. 302 (Copacabana)
Josué Montello, Av. Atlântica 3018, ap. 902 (Copacabana)
Octavio de Faria, Praia de Botafogo 28, ap. 701 (Botafogo)
Odylo Costa Filho, Av. Rui Barbosa 430, 2º and. (Flamengo)
R. Magalhães Junior, R. Marechal Mascarenhas de Moraes 100, ap. 701 (Cop.)
Gilberto Mendonça Teles, R. Pompeu Loureiero 36, ap. 802 (Copacabana)

São Paulo
Alfredo Bosi 04358, Av. Horácio Lafer 803

Uberaba (MG)
Mário Palmério, Av. Guilherme Ferreira 217

Porto Alegre (RGS)
Guilhermino César, Av. Independência 779, ap. 1501

Respondendo à sua pergunta, informo-o de que ainda não me chegou às mãos o número da revista Grial, que, segundo o Amigo me comunica, tinha publicado a minha palestra.
Para terminar esta carta, vou fazer-lhe mais um pedido.
Lendo aos poucos os volumes da preciosa coleção galega que devo a sua gentileza (no momento estou percorrendo o magnífico Diario de viagem de Castelao), verifico que precisaria de um dicionário galego (unilíngue, ou galego-espanhol ou galego-português). Posso pedir à sua inesgotável gentileza o obséquio de me arranjar um?
Queira aceitar, com meus agradecimentos antecipados, minhas lembranças mais cordiais e apresentar a D. Pilar os meus cumprimentos com um abraço de Nora

[Engadido a man:] Seu fiel amigo

Paulo Rónai

1978-08-13 Mencionado/a
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1978
Rio de Janeiro
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1978 en 13/08/1978

Rio de Janeiro, 13 de agosto de 1978


Caro Amigo Valentín Paz-Andrade,

Acabo de receber o exemplar de A Galecidade na Obra de Guimarães Rosa, com a sua generosa dedicatória. Embora conhecesse o trabalho, foi uma nova emoção revê-lo em letra de forma. E é para mim motivo de profunda alegria ter o meu nome ligado a esse marco de Guimarães Rosa em terras galegas. Dou-lhe parabéns simultâneos pela posse na Academia e pela publicação do livro.
Li com interesse e satisfação o belo discurso de recepção do Dr. Alvaro Cunqueiro, que me revelou mais alguns aspectos da sua inesgotável atividade.
Guardarei o volume com afeto, como a lembrança mais valiosa da minha passagem pela Galiza.
Imagino que o Amigo quererá divulgar o trabalho no Brasil. Sugiro-lhe que, juntamente com o exemplar dedicado pessoalmente a José Olympio, remeta certo número de exemplares, no mínimo uma dúzia, a Livraria José Olympio, às mãos de Daniel Pereira, que os distribuirá a pesquisadores, estudiosos e bibliotecas. Por outro lado, queira remeter, para meu endereço, exemplares dedicados a nossos amigos comuns, Aurélio Buarque de Holanda Ferreira e Carlos Drummond de Andrade, que entregarei com muito prazer.
Continuo pensando muito no Amigo, em D. Pilar e nos dias inesquecíveis passados em sua companhia –especialmente nessas últimas semanas, ao ler o grande romance da Pardo Bazán, Los pazos de Ulloa. Descobri com certa surpresa muitas analogias, entre a Galiza do fim do século XIX e a Hungria da mesma época.
Quando tiver um instante, dê-me notícias. A política tem-lhe deixado tempo para a advocacia? A advocacia para a literatura? e as três para viver, viajar, descansar?
Eu tenho tentado misturar trabalho e descanso, mas, para dizer a verdade, tenho trabalhado mais que descansado. No momento estou acabando o meu dicionário português-francés e, ao mesmo tempo, estou empenhado na compilação de uma Seleta de Aurélio Buarque de Holanda, semelhante à de Guimarães Rosa. Ultimamente dei conferências em cidades do Estado de São Paulo. Enquanto isto, estamos construindo uma biblioteca em anexo a nossa casinha de Nova Friburgo, para onde nos pretendemos retirar definitivamente em 1979 e onde espero poder recebê-lo em sua próxima volta ao Brasil.
Reiterando os meus agradecimentos, subscrevo-me com o carinho de sempre seu cada vez mais admirador e amigo


Paulo Rónai.

1978-10-08 Mencionado/a
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1978
Rio de Janeiro
Vigo
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1978 en 08/10/1978

Rio de Janeiro, 8 de outubro de 1978



Querido o Amigo,

Duas linhas apenas para dizer-lhe que recebi em tempo os exemplares destinados a Aurélio e a Carlos Drummond e os entreguei devidamente aos destinatários. Daniel Pereira disse-me que ele também recebera a sua remessa.
Como vão vocês? Espero que tudo lhes esteja correndo bem. Não projetam nenhuma viagem ao Brasil?
Nora e eu estamos algo melancólicos: nossa filha menor, Laura, a flautista, a que vivia conosco, embarca com uma bolsa de estudos para a Universidade de New York e vai passar um ou vários anos longe de nós. De resto vamos indo, Nora trabalhando na Faculdade e eu, mergulhado nas provas do Dicionário português-francés. Aceite um abraço afetuoso e meus respeitos para D. Pilar. Seu


P. Rónai.

1980-06-28 Mencionado/a
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1980
Rio de Janeiro
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1980 en 28/06/1980

Sítio Pois é, 28 de junho de 1980


Meu caro Amigo,

Estou sentindo falta de suas notícias. Entre seus mil afazeres de político, advogado, ensaísta e –last but not least- poeta terá um momento livre para informar-me de sua saúde e da de D. Pilar? Terá publicado alguma obra nova depois de Cen chaves de sombra? Já foram publicados seus artigos sobre seus saudosos amigos Lorenzo Varela e Luis Seoane? Aguardo-os.
Antigamente o Amigo vinha de vez em quando ao Brasil. Não está em seus projetos uma visita ao Rio? Definitivamente instalados em nossa casa de campo, gostaríamos tanto, Nora e eu, de que o Senhor e D. Pilar passassem algum tempo conosco. Ficamos aqui a duas horas e meia do Rio, a quase 1000 metros de altitude, num clima agradável e num lugar bonito. Nova Friburgo foi fundada há 150 anos por imigrantes suíços que se instalaram aqui por acharem a paisagem semelhante ás de seu pais de origem. Aqui temos instalações contíguas para os amigos e um dos nossos prazeres é recebê-los. Note, por favor, o meu telefone daqui (0245) 22 4134.
Desde novembro, quando estive na Bulgária e na Hungria, não mais sai do Brasil. A não ser algumas conferências dadas no Rio, em S. Paulo e em Brasília, tenho permanecido aqui. Nora também acabou por aposentar-se na Faculdade de Arquitetura. Pela primeira vez na vida, podemos entregar-nos unicamente a afazeres que nos agradam.
O trabalho que mas tempo me toma é Mar de Histórias, uma grande antologia do conto mundial. Não sei se já lhe falei dessa obra, cuja publicação foi começada por José Olympio em 1945 e abandonada em 1963, ate quando saíram quatro volumes. Agora a publicação foi retomada pela Nova Fronteira. São previstos 15 volumes dos quais três publicados, o quarto ao prelo, o quinto em vésperas de ser entregue. Para que tenha uma ideia do trabalho, estou-lhe remetendo o 1º volume. Grande parte da seleção e da tradução é feita por mim, o resto e toda a revisão por Aurélio Buarque de Holanda Ferreira.
Entre os 350 contos do mundo inteiro que a obra há de conter gostaria de incluir polo menos um conto galego. Na precisa coleção de livros galegos com que você me presenteou em Vigo há volumes de poesia, de ensaios, de história literária, mas não contos. Existirá uma antologia do conto catalão? Ficar-lhe-ia muito grato pela remessa de um livro destes. Não havendo, serviriam também volumes individuais de contos, como, por exemplo, Cousas de Castelao, Contos do camiño e da rúa, de Otero Pedrayo ou Do caso que lle aconteceu ó Dr. Alveiros, de Risco.
Estou-lhe enviando também,na mesma encomenda, meu ultimo livro publicado, Não perca o seu Latim, adagiário de latim, que talvez o interesse também em qualidade de advogado. Espero que lhe chegue ás mãos em ordem.
Aqui me despeço do caro Amigo, à espera de suas sempre gratas notícias, pedindo-lhe que apresente minhas gratas lembranças a D. Pilar. Nora manda abraços para ambos.
Afetuosamente

Paulo


P.S. Finalizando, ocorre-me outro pedido: de um dicionário galego-português ou galego-espanhol, que receberia também com muita gratidão...

1980-08-16 Mencionado/a
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1980
Rio de Janeiro
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1980 en 16/08/1980

Sítio Pois é, 16 de agosto de 1980


Caro Amigo Valentín Paz-Andrade,

Recebi a sua carta amiga de 21 de julho juntamente com Encrucilladas de Neira Vilas, e, também o lindo cartão datado de 10 de agosto de Trondheim. Muito obrigado por ter pensado em mim durante a sua breve passagem por esse lugar crucial da história européia.
Dou-lhe parabéns por ter afinal acabado de instalar a sua biblioteca não jurídica e grande parte da sua coleção de quadros na casa de Pousa Nova do Mar. Conheço a inquietude provocada por uma mudança demorada e o alívio que se sente quando finalmente se fixou os seus penates. Desejo-lhe saúde e felicidade na nova residência.
Uma grata notícia é a que me dá da sua biografia de Castelao. Graças à sua gentileza posso fazer uma idéia do valor desse grande galego como pintor e como ilustrador, pois li o seu Diário 1921, além do que o seu Pranto Matricial inspirou-me a vontade de conhecê-lo de mais perto ainda. Escrever essa biografia era para o Senhor uma obrigação fraterna. Faço votos para que as pesquisas projetadas o tragam quanto antes a Buenos Aires, pois assim poderemos tê-lo entre nós. (De qualquer maneira tome nota desde já do nosso número de telefone: 0245-22-4134, Nova Friburgo.) Tem razão de querer conhecer ao mesmo tempo a Bahia, que mesmo dentro do Brasil é um fenômeno único de cor, de sabor e de atmosfera. Deverei passar por lá em poucos dias, pois depois de amanhã embarco para Maceió, a capital de Alagoas, onde deverei pronunciar o discurso de saudação por ocasião do 70º aniversário de Aurélio. Na volta provavelmente pararemos em Salvador.
Os contos de Neira Vilas são concisos, poderosos e fortes –mas ainda não sei se será possível incluirmos em Mar de Histórias autores contemporâneos. Para esse fim preferiríamos contos galegos (de um ou dois autores) do fim do século passado e do começo deste. Da mesma forma um ou dois catalães, mas esses deveriam vir traduzidos em castelhano ou em português. Vou mandar-lhe dentro em pouco os vols. II a IV de Mar de Histórias para que tenha idéia mais nítida de nosso plano.
Recebi (e agradeci ao Dr. Fernández del Riego) as separatas de Grial com minha conferência em Vigo, mais não chegou ainda o nº dedicado a Luis Seoane, que aguardo com muito interesse.
Naturalmente li com alvoroço o próximo projeto do encontro galego-luso-brasileiro a ser organizado na Galiza e a idéia de minha eventual participação encanta-me. Devo confessar que para tal não me vejo qualificado, nem representante possível de qualquer entidade: mas se o seu engenho e a sua amizade encontrarem um pretexto honroso para a minha presença, iria honrado e procuraria não decepcioná-lo. Estou pensando numa palestra, p. ex. sobre «O português idioma universal no espelho da tradução».
Respondendo à pergunta de seu cartão postal confirmo que Carlos Drummond de Andrade esteve há algum tempo na Argentina, para assistir a melindrosa operação da filha Maria Julieta, diretora do Instituto Brasil-Argentina. Ela está fora de perigo, mas ao voltar, talvez de emoção, o próprio Drummond adoeceu de um herpes zoster. Espero que já se tenha restabelecido. Nessas circunstâncias não me parece provável que ele se decida a viajar, mas sempre vale a pena tentar. Seria feliz de ir com ele.
Com minhas lembranças respeitosas e as saudações cordiais de Nora para D. Pilar, aceite, querido Amigo, um abraço afetuosos de seu fiel


[Paulo]

1982-12-03 Mencionado/a
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1982
Francia
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1982 en 03/12/1982

[Bretanha] 3-XII-1982


Queridos Amigos,

Acabamos de percorrer a bela província da Bretanha, em muitos aspetos parecida coma a Galícia.
Em anexo, mando-lhes uma fotografia minha com um forte abraço. Minha filha Cora está tentando conseguir no Rio as de Aurélio e de Jorge Amado; as editoras, para surpresa nossa, não as tinham.
Agora está se dirigindo aos próprios fotografados.
Nora e eu mandamos-lhes as lembranças mais afetuosas.


Paulo

1983-04-23 Mencionado/a
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1983
Rio de Janeiro
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1983 en 23/04/1983

Sítio Pois é, 23 de abril de 1983


Querido Valentín,

Recebi a sua carta amiga de 14 de abril com as explicações anexas. Muito obrigado pela pronta resposta.
Lamento dizer-lhe que, mesmo depois da sua explicação, continuo não entendendo o seguinte trecho da pág. 209:

«... que servidor, ao fin e ao cabo un escritor de imaxinación, olla como agora mesmo Cornide de Saavedra o ten nas mans, suxeto de lenta e preocupada leitura, sentado a carón d’unha fiestra que deixa ver o porto coruñés cos pesqueiros que aparellan para a costeira do bonito, ou zarpan para o Grande Sole.»

Por favor, mande-me uma tradução do trecho em francês ou em inglês (em espanhol não serve) que me permita perceber a sua estrutura lógica. Se continuar não entendendo, terei que suprimir o trecho todo.
Gostaria de saber se você quer reproduzir na edição brasileira as ilustrações da galega. Seria neste caso bom remeter para a Difel as fotografias originais, porque não sei se as do livro dariam boa reprodução. Em se tratando do público brasileiro, que já viu essas fotografias ou muitas semelhantes, a reprodução me parece dispensável.
Diga-me também se acha necessário, na edição brasileira, um índice de nomes próprios; sua confecção atrasará ainda a publicação.
Não se admire se Aurélio não lhe agradeceu a remessa do Nuevo Índice. Ele está doente e a enfermidade impede-o de escrever.
Vou tentar conseguir a reprodução do seu artigo nalguma revista ou Suplemento Literário. O do Estado de S. Paulo não me é acessível.
Em nome de Nora e no meu agradeça à querida Pilar suas linhas amáveis. Nora manda em anexo algumas das fotos feitas durante a nossa estadia (as duplicadas, com cumprimentos, para D. Isabel).
Saudações afetuosas


Paulo

1983-08-28 Mencionado/a
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1983
Rio de Janeiro
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1983 en 28/08/1983

Sítio Pois é, 28 de agosto de 1983


Caro Valentín,

Acabo de receber cópia de seu excelente artigo sobre Drummond. Mando-o logo para o endereço dele, depois de tirar uma cópia xerox para Eduardo Portela. (Não pude falar com Drummond, que se interna hoje numa clínica para submeter-se a uma operação. Espero que tudo corra bem ao nosso poeta ultrajovem.)
Outro ultrajovem é você, a julgar pela sua continua atividade, especialmente pelas conferências que vai fazer no curso de verão da Universidade Internacional Menendez y Pelayo -tenho a certeza de que com muito êxito.
O Sr. Fernando Baptista da Silva voltou da Europa (Portugal e Paris) e remeteu-me há dois dias as 2as provas da Galeguidade. Vou entregá-las devidamente corrigidas, no dia 1º de setembro à sucursal da Difel no Rio, juntamente com o índice e o texto das orelhas.
Fico-lhe grato pela sugestão de incluirmos contistas galegos no Mar de Histórias: Valle-Inclán, Castelao, Blanco Amor. Gostaríamos muito de fazê-lo, mas faltam-nos originais. Você poderia fornecê-los?
O estado do nosso Aurélio continua estacionário. Ele tem ainda a mesma dificuldade em escrever.
Talvez o interesse saber que a Academia Brasileira de Letras me distinguiu com o Prêmio Machado de Assis para 1983, por conjunto de obra. O mesmo prêmio já foi dado a Gilberto Freyre, Guimarães Rosa, Rachel de Queiroz, etc.; sou o primeiro brasileiro naturalizado a recebê-lo.
Com nossas recomendações, minhas e de Nora, para Pilar, aceite um abraço muito cordial do seu amigo, admirador, prefaciador e tradutor



Paulo

1984-10-10 Mencionado/a
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1984
Rio de Janeiro
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1984 en 10/10/1984

Nova Friburgo, 10 de outubro de 1984


Queridos Amigos Pilar e Paz-Andrade,

Recebemos com prazer o lindo cartão que vocês nos mandaram de Sargadelos juntamente com os Diaz Pardo. Foi uma alegria saber que os bons amigos voltaram a reunir-se no lugar maravilhoso de que guardamos recordações tão belas e que nessa ocasião se lembraram de nós.
Nora e eu vamos bem, levado vida sossegada em nosso sítio. Tivemos há pouco uma grande alegria: nossa filha Laura, depois de 6 anos de estudos nos EEUU, voltou definitivamente ao Brasil junto com o marido pintor André Porto. Ela está com o título de «master» e vai procurar conseguir trabalho e colocação no Rio.
No Brasil a situação está crítica, com quase 300% de inflação por ano. Nosso amigo Drummond acaba de se despedir de seus leitores do Jornal do Brasil: vai parar de escrever crônicas. Aurélio está com as atividades limitadas pela doença. Por mim, continuo trabalhando devagar, agora sobretudo na revisão de meu Dicionário de Citações.
Recebam um abraço afetuoso de seu amigo

Paulo


Nora manda lembranças cordiais.



PS. O edifício amarelo no centro do cartão é o Colégio Anchieta, dos jesuítas, de onde Drummond foi expulso de quando jovem.

1984-11-19 Mencionado/a
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1984
Rio de Janeiro
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1984 en 19/11/1984

Sítio Pois é, 19 de novembro de 1984


Querido Amigo,

Como vão vocês? Estamos com muitas saudades do casal amigo. Mandem notícias.
Você encontrará anexo à presente um discurso do Prof. Luis Otávio Savassi Rocha, da Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais, conterrâneo de Guimarães Rosa e eminente estudioso de sua obra. Há nele oportunas referências à Galeguidade na obra de Guimarães Rosa, que devem interessá-lo. O endereço do Prof. Savassi Rocha é Rua Maranhão 1305, apto. 104, Belo Horizonte, 30000.
E, por falar em nosso livro, você gostará de saber que sua tradução me valeu o Prêmio Jabuti desse ano: é uma estátua de bronze oferecida pela Câmara Brasileira do Livro.
Depois de muita demora, acaba de sair o vol. VII de Mar de Histórias, de que já lhe mandei um exemplar.
Mais noticias daqui:
Carlos Drummond de Andrade encerrou suas atividades de cronista. Essa decisão, lamentada por seus leitores e por muitos articulistas, foi anunciada há mais de um mês numa crônica de adeus.
O nosso Aurélio continua doente, afetado que está do mal de Parkinson, que lhe dificulta escrever e até locomover-se.
A situação política do Brasil está muito inquieta por causa das próximas eleições presidenciais. O candidato do governo se vê ameaçado de perder, mas teme-se que o da oposição, se vencer, não venha a ser empossado. Enquanto isto, a inflação chegou a 300% ao ano. Nós outros tentamos viver sossegados no isolamento do nosso sítio, entre flores e bichos, e pensamos muito em você e em D. Pilar. Recebam nossas melhores lembranças e nossos abraços cordiais.



Paulo

1985-07-25 Mencionado/a
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1985
Rio de Janeiro
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1985 en 25/07/1985

Sítio Pois é, 25 de julho de 1985


Queridos Amigos Valentin e Maria del Pilar,

Recebi em tempo o seu amável cartão de 27 de maio, que muito agradeço. Ficamos contentes de saber que estão passando bem. Nós também vamos indo como Deus é servido. O Brasil é que não vai lá muito bem. O país ainda não se refez do trauma causado pela doença e a morte inesperadas do presidente Tancredo Neves, de quem todos esperavam uma melhoria da situação. O novo governo está enfrentando dificuldade enormes: inflação, desemprego, dívidas externas, falta de segurança, greves, etc. Torçam por nós.
Trouxe-lhes o cartão anexo do Nordeste, onde fui fazer algumas conferências, depois de ter passado com Nora uma temporada em Porto Alegre. Nesta cidade encontramos todo o rigor do inverno, ao passo que em Maceió fui recebido por um tempo idílico de verão. Parecia ter mudado de continente.
Fico satisfeito de saber que receberam o vol. VII de Mar de Histórias. Aurélio, cujo estado é estacionário, ainda conseguiu acabar comigo o vol. VIII, mas não tenho coragem de pedir-lhe o acabamento do IX.
Neste interim devem ter recebido meu Dicionário Universal de Citações, enviado em março, sobre o qual gostaria de saber a sua impressão. No momento estou descansando de trabalhos maiores, limitando-me a cuidar da reedição de alguns trabalhos antigos.
Minha filha mais velha, Cora, tem duas peças no cartaz de teatros do Rio; a menor, Laura, continua ativa no campo musical.
E assim vamos vivendo e envelhecendo devagar. Pensamos muito nos queridos amigos e lhes mandamos nossas atenciosas saudações



Paulo e Nora

1985-12-14 Mencionado/a
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1985
Rio de Janeiro
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1985 en 14/12/1985

Sítio Pois é, 14 de dezembro de 1985


Querido Amigo,

Fiquei satisfeito de saber, pela sua amável carta de 21 de agosto, que recebeu em ordem o Dicionário Universal de Citações e agradeço-lhe as considerações generosas que teceu a respeito desse livro. Felizmente, a obra, que me custou três anos de trabalho, foi bem recebida pelo público: uma segunda edição foi lançada em novembro e a Editora já está cogitando de uma terceira.
Ao mesmo temo fico-lhe especialmente obrigado pela oferta de Galiza lavra a sua imagem, livro multifacetado que interessa por tantos aspetos: literário, histórico, artístico, econômico, genético, e ao mesmo tempo possui forte unidade intrínseca. O conjunto desses dez ensaios constitui, na verdade, mais um canto de amor a Galiza. Certas páginas, especialmente as que dizem respeito à pintura galega, reavivaram a lembrança de minhas visitas aos museus de sua terra. Admiro cada vez mais a sua incansável pena.
Nesse interim deve ter-se realizado a Exposição Interacional da Pesca, presidida por seu Filho. Conhecendo a sua energia, suponho que o ajudou bastante na organização de acontecimento tão importante, colaborando eficazmente para o êxito.
Aqui não há maiores novidades. Em consequência talvez de minhas viagens a Porto Alegre e a Maceió tive em agosto algumas perturbações circulatórias, das quais porém consegui livrar-me. Passo a maior parte de meu tempo nas reedições do Dicionário de Citações.
O nosso Aurélio, infelizmente, não melhorou –mas continua trabalhando heroicamente na segunda edição do Novo Dicionário.
Drummond vai bem. Desde que não mantém mais sua seção do Jornal do Brasil, nosso contato epistolar ficou menos intenso. Há uns dois anos, no momento da crise da Editora José Olympio, seus contratos passaram para a Editora Record, que sucessivamente vai reeditando seus livros antigos, além de ter lançado dois novos.
No Brasil, a restauração democrática continua a solavancos. A situação econômica permanece grave: chegamos a uma inflação de 300% ao ano.
Com a aproximação das festas de fim de ano, Nora e eu desejamos-lhe assim coma a Pilar Feliz Natal e um ótimo 1986.



Paulo e Nora

1986-09-25 Mencionado/a
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1986
Rio de Janeiro
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1986 en 25/09/1986

Sítio Pois é, 25 de setembro de 1986


Querido amigo Valentin,

Acabo de receber a sua amável carta de 9 de setembro, acompanhada da cópia da que você escreveu ao Sr. Melchior Jahnel.
Bem que eu estava apreensivo com o seu longo silêncio e ia escrever-lhe para reclamar notícias. Agora soube com pesar o motivo do atraso; uma broncopneumonia que o manteve por longos meses doente, afastado de todas as atividades. Nora e eu ficamos penalizados e formulamos votos para que a sua convalescença seja rápida e completa. Guardamos de você a imagem de uma pessoa enérgica, ativíssima, entregue a muitas ocupações: não conseguimos imaginá-lo enfermo. Por favor, fique fiel a sua imagem.
Espero que o afeto da família, a solicitude dos amigos, assim como a concessão de distinções excepcionais de que foi alvo (a medalha de Ouro de Vigo e o Prêmio Trasalva), se não conseguiram curá-lo, pelo menos tenham suavizado o seu sofrimento.
No Brasil, tem havido mudanças importantes. Em fim de fevereiro, o governo, para pôr um paradeiro à inflação desenfreada, substituiu o cruzeiro pelo cruzado (1 cruzado valendo 1000 cruzeiros) e congelou os preços dos artigos de primeira necessidade. Essas medidas foram acolhidas com grande entusiasmo mas infelizmente estão aos poucos perdendo o impacto: começou a faltar carne, leite, ovos, etc., que só se conseguem com ágio, o que equivale a uma inflação disfarçada. Enquanto isto, os salários permanecem fixos e os impostos estão aumentando. As eleições previstas para novembro hão de mostrar se o governo continua dispondo da confiança do povo. As liberdades públicas foram restabelecidas, mas a crise econômico-financieira permanece crítica.
A nossa vida particular pouco mudou. Continuamos a viver em nosso sítio, de onde saímos cada vez menos, o que resulta num certo isolamento. Vendemos o nosso antigo apartamento de Copacabana: agora, quando descemos ao Rio, alojamo-nos em casa de nossa filha Cora. A não ser isso, fazemos poucas viagens.
Em abril fomos com um grupo de escritores a Lençóis Paulista (cidade onde existe uma rua com o meu nome) para assistir à instalação de computadores na Biblioteca Municipal Origenes Lessa (à qual costumo doar livros). Fazia parte do grupo o próprio Origenes Lessa, nosso grande amigo, que infelizmente veio a falecer semanas depois. Estava presente também o presidente da República José Sarney, e nós pudemos avaliar a sua popularidade, que no momento estava extraordinária.
Em maio, fomos a Porto Alegre: a Universidade de lá convidara-me para fazer o brinde no banquete dos 80 anos de Mauricio Rosenblatt, ex-gerente das editoras Globo e José Olympio. O banquete foi impressionante, com trezentos amigos festejando um livreiro aposentado. Visitamos também parentes e amigos que moram em Porto Alegre. A excursão teria sido ótima se um dia depois do banquete eu não tivesse sido agredido na rua por um assaltante, que me derrubou no chão com uma rasteira e roubou o dinheiro que guardava no bolso. Escapei com alguma contusões e escoriações –mas o incidente é um bom exemplo de insegurança em que atualmente vivemos no Brasil.
De volta a Friburgo, recomecei a trabalhar. A Editora Nova Fronteira, à qual tinha entregado meu dicionário francês-português e português-francês há mais de cinco anos, finalmente resolvera publicá-lo e me tinha pedido uma revisão e uma atualização. Depois disto ainda terminei o vol. IX de Mar de Histórias, que Aurélio está revendo agora. (O vol. VIII acaba de sair: daqui a pouco vou manda-lhe o seu exemplar.) Infelizmente Aurélio não vai muito bem. Ainda assim conseguiu terminar a 2ª edição, aumentada, do seu Dicionário. Quanto a Drummond, vai bem: as últimas vezes que quis visitá-lo houve desencontro, assim não nos vemos há mais de um ano. Há tempos ele interrompeu a sua colaboração regular na imprensa.
Enquanto isto, as estações se sucedem e o tempo corre num ritmo vertiginoso. Parece-me incrível que já tenham passado mais de três anos de nossa visita a Vigo, de que guardamos lembranças indeléveis.
Queira transmitir nossas lembranças cordiais a D. Pilar e aceite um abraço afetuoso de os votos de saúde de seus amigos



Paulo e Nora