PROXECTO EPÍSTOLA

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TEMÁTICA: Cen Chaves de Sombra

Epístolas
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Data Relación Remitente - Destinatario Orixe Destino [ O. ] [ T. ]
Data Relación Remitente - Destinatario Orixe Destino [ O. ] [ T. ]
1978-11-28
Carta de Paz Andrade a Seoane. 1978
Nova York
Vigo
Nova York
Bos Aires
Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paz Andrade a Seoane. 1978 en 28/11/1978


Vigo, a 28 de Novembre de 1978

Sr. Don
LUIS SEOANE
Montevideo, 1985
BUENOS AIRES (R. ARGENTINA)

Queridos Maruxa e Luis:

Chego axiña de Madrid. Alá fora ao recibir a mala nova do pasamento de Lorenzo Varela. Eu tería sempre de recibir con abraiante pancada semellante mala nova. Mais n-estes dous anos derradeiros, viña sostendo con o noso inesquecente amigo estreita convivencia. Nas miñas viaxes, agora tan amiudo, ao embigo da meseta, sempre compartíamos algunhas horas. Inesquecentes horas, pois si ben o seu corazón debía estar feito unha peneira, a sua mente tiña a hiperlucidez dos que xa levan a morte acochada no soma. N-este caso no seu grande grandeiro corazón.
A primeiros de mes fixen unha viaxe ao Canadá, formando parte d-unha embaixada de parlamentarios. Tanto denantes como despois de tomar e deixar o avión tentei falar con Lorenzo. Marika foi a que contestóu sempre decindo que se atopaba na cama engripado. Falsa imaxe, da que dias despois –eu xa me atopaba en Vigo–, se consideróu liberado.
No dia da morte –madrugada do 25– consentíu ao fin que se chamara a un médico. Marika e Lala –que se atopaba facendolle compaña– chamaron a unha clínica para o levar. Na ambulancia, denantes de ser ingresado, deixóu de alentar. Foi obxeto de autopsia. Os médicos certificaron infarto múltiple. Outro calquera, que non fora Lorenzo, tería dado aos avisos unha interpretación mais real. Aquela mente tan lucidamente construida, funcionóu como tal sempre, até chegar ao profético, menos para sí e na hora decisiva.
Isaac foi quen nos avisóu da desgracia. Despois chamóume Carlos Gurmendez. Carlos tiñalle encarregado un artigo para El País sobre o meu derradeiro libro, A Galecidade na Obra de Guimarães Rosa. Compuxo un verdadeiro ensaio en tres folios. O derradeiro ainda ficaba na máquina. E un traballo fondo, fermoso, e penetrante, como canto íl facía. Denantes escribira un poema, –profético poema–, que despois sustituiu por un limiar en prosa, para Cen Chaves de Sombra. Un libro de poemas meus que está no prelo. O titulo tamen foi escollido por íl. E todo o que escribíu, ademais d-un artigo en Informaciones, desde a sua volta a España. Supoño que aparte algunhas traduccións para editoriaes.
Marika asegura que ten mais obras ineditas. Conviñemos que entregará todol-os orixinaes a Dieste, que tamben se desplazóu con Carmen a Madrid, para o enterro. Cando caian as derradeiras paladas de terra sobre o cadaleito, abrazóuse a min e botóu a chorar. A Rafael me refiro.
Isaac tiróu algunhas fotos, c-unha máquina que mercóu no intre. Tomóu boa nota da numeración da sepultura, pois algún día teremos de resgatar os restos para Terra galega. Esta é unha fonda door adicional co-a que eu fico. O buraco dos mortos onde está e para cinco prazas. Fai o terceiro desde enriba. Cando me din conta de semellante drama macabro xa era tarde. O camposanto da Almudena funciona con unha mecánica ríxida e deshumanizada que pon os cabelos tesos. Temos –ou teredes os que vivades– que resgatar para chan galego os restos do noso compañeiro, frustrado no mellor da sua maturidade mental. Foi unha pena que o fillo de Marika non ordeara a tempo a compra d-un nicho autónomo. O rapaz pol-o demais portouse con grande afervoamento car-a a Lorenzo, no que perdéu seu mellor conselleiro.
Non teño agora tempo nin folgo pra mais. Cunqueiro ten a ideia, compartida por Paco del Riego, de adicar in memorian a páxina literaria do Faro de Vigo, o domingo que ven ou o seguinte.

Lembranzas de Pilar e Alfonso, e longas apertas arrochadas de,

Valentín

[Manuscrito:]

Queridos Maruja y Luis

Como Valentín dice, la muerte de Lorenzo nos dejó a todos impresionados, yo particularmente le tenía un gran afecto, además de su inteligencia, era de una gran finura. Lo traté poco, pero lo quería mucho. Marika me da mucha pena. Hoy le escribiré, no pude ir a darle un abrazo, por tener con nosotros al nieto, y ahora sin Antonia la cosa es más complicada.

Un fuerte abrazo de

Mª Pilar


[Anexo]
[Mecanografado.]

HOMENAXE CATIVO A
VALENTÍN PAZ-ANDRADE
Non sei porqué:
Xílgaros.
Van e veñen,
non sei porqué:
Xílgaros.

Xílgaros que van e veñen
sobor do vento mareiro
do mar de Vigo.

Gaivotas.
Non sei porqué.
Brancas gaivotas azúis
sobor do mar de Vigo.
Non sei porqué.
Non sei porqué, meu amigo.
Tantos anos de sangue prestada que ninguén pagará.
De camelias nos pazos,
de ledos toxos ferintes.
E tí e mais eu, meu amigo,
dándolle cada dia a morte a sua ración.

Lorenzo Varela

1979-06-26
Carta de Rodrigues Lapa a Paz Andrade. 1979
Anadia
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Rodrigues Lapa a Paz Andrade. 1979 en 26/06/1979

Anadia, 26/6/79


Meu bom e prezado Amigo

Desculpe a demora em agradecer a oferta do seu livro, Cem chaves de sombra, onde, mais uma vez, o homem destemido faz da poesia a arma da sua luta pela Terra que o viu nascer. O «Pequeno testamento» é, a tal respeito, uma peça antológica. Parabéns pelo seu livro. A Galiza está precisando de homens assim: que vejam claro e obrem consequentemente, e sobretudo rapidamente; quando não, a cultura e a língua têm os dias contados.
O Sá da Costa mandou-me a fotocópia da sua carta, que muito apreciei. Diz muito bem: cumpre reabrir o triálogo. É o que venho fazendo de há muito. Como prova disso, envio-lhe o recorte de um artigo publicado no dia de Camões, o nosso santo padroeiro, que uma vez chamou «sórdidos» aos galegos, por atraiçoarem a fraternidade que deve sempre existir entre eles e os portugueses. Foi em nome desse ideal que amaldiçoou desse jeito os seus próprios avós galegos, um (Vasco Peres de Camões), prisioneiro, outro (Airas Peres de Camões), morto na batalha de Aljubarrota. É indispensável esclarecer todos estes incidentes históricos e varrer a estrada para a nossa reconciliação. O antilusismo recalcado parece ter ressurgido, de modo selvagem, na polemica desencadeada nos jornais em torno do problema da língua. A imagem da Galiza e sua cultura não fica honrada com tais destemperos. Tenho as peças fundamentais desse processo. O que não sei é se as terei de deitar ao lixo, ou se as terei de aproveitar para fazer o estudo da intelectualidade galega dos nossos dias.
Cumprimenta-o cordialmente o amigo obrigado,

Manuel Rodrigues Lapa

1979-07-15
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1979
Rio de Janeiro
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1979 en 15/07/1979

Nova Friburgo, 15-7-79


Querido Amigo Valentín Paz-Andrade,

Quando a sua carta de 22 de maio chegou ao Rio, eu estava dando um curso de trinta aulas em Belo Horizonte. Ao voltar, logo fiquei envolvido nos preparativos de minha mudança. Afinal, mudamo-nos para cá no dia 6 deste mês. Na paz destas serras pude enfim ler Cen chaves de sombra e agora posso responder à sua carinhosa carta.
Fiquei tristíssimo ao saber da morte do prefaciador e do ilustrador do seu livro. Lembro-me de ter visto quadros de Luís Seoane na Galicia. Quanto o Lorenzo Varela, o seu «Limiar» e o seu «Homenaxe Cativo» dão uma idéia de seu alto valor. Dou-lhe pêsames sentidos pela morte desses dois amigos fraternos.
O seu livro interessou-me prodigiosamente. Nele há de tudo: lirismo e épica, reminiscências poéticas de autobiografia e historia nacional, balada popular e poesia culta, meditação e balanço. Por meio dele, pode-se reconstruir o que foi a sua existência durante tantos anos trágicos. A mim também aquelas datas dizem muito. Na longínqua Hungria nós também sofríamos com as notícias terríveis que de 1936 em diante nos chegavam da Espanha. Já prevíamos naquele um ensaio do futuro que o nazismo nos preparava; e efetivamente, já em 1940 eu me encontrava num campo de concentração, de onde no ano seguinte partiria para o exílio. Sofríamos com a Espanha e a Galicia, embora quase nada soubéssemos a respeito delas. Agora que as conheço, que lhes entendo a língua e a mensagem, que nelas conto amigos queridos, que basta fechar os olhos para rever-lhes as paisagens –agora é que posso sentir retrospectivamente tudo o horror daquela época.
A sua poesia tem unha vibração particular: mesmo quando alude aos acontecimentos da sua própria vida, sente-se que você fala em nome de uma coletividade; e respira-se em toda ela uma dramaticidade profunda, aguçada pela íntima inspiração folclórica. Dou-lhe parabéns pela sua força, pelo seu dom de comunicação e por ter captado de maneira tão sensível o «genius loci». E felicito-o por não ter abandonado a poesia no meio das vicissitudes de uma vida tão ativa e por servir-se dela para exaltar a memória dos amigos mortos. O seu volume é uma obra de arte e um monumento: para mim completa a imagem que guardara da Galicia no fundo do coração.
No começo desta carta falei-lhe da minha estada em Minas Gerais. Aproveitei um fim de semana para dar um passeio a Cordisburgo, cidade natal do nosso inesquecível Guimarães Rosa. É um lugarejo minúsculo, de ar puro e rara beleza. Pensei em você na casa em que ele nascera e que hoje é museu.
Soube com prazer da excelente repercussão do seu livro sobre A galecidade na obra de G.R. em Cuba sob a pena do escritor Helio Dutra Domínguez. Ele tem razão ao indicar-lhe o acadêmico Antônio Houaiss como pessoa capaz de apreciar o seu ensaio (e, acrescento, a sua poesia também). O endereço de Antônio Houaiss é Avenida Epitácio Pessoa 4560, ap. 1302, Rio de Janeiro, 22471.
Como lhe disse, depois de passar 72 anos em capitais, acabamos de nos mudar a unha casa na serra (onde espero poder acolhe-lo um dia em companhia de D. Pilar). A mudança é grande demais. Por enquanto estamos organizando uma rotina para a nova vida e arrumando a biblioteca (O volume de Adovaldo Fernandes Sampaio deve encontrar-se em algum lugar entre os dez mil volumes ainda empacotados, logo que o encontre. Vou remetê-lo para o seu endereço) Espero poder dedicar o tempo que me resta à leitura e ao estudo.
Na verdade, mudamo-nos antes do que esperávamos. Nora só vai ausentar-se em setembro, mas prefere descer daqui uma vez por semana a permanecer no Rio. Neste momento, aproveitando-se das férias, estão conosco minha filha Laura, que estuda música na Universidade de Nova Yorque e a outra filha Cora, jornalista em Brasília, que trouxe consigo o marido, e os dois filhos. Procuramos aproveitar ao máximo esta rara oportunidade de ter a família reunida.
Drummond acaba de passar uma temporada na Argentina, o que me impedia de entregar-lhe em mão o seu livro de versos: mais deixei-o na casa dele com um bilhete.
Com meus respeitos a D. Pilar, aceite, caro Amigo, um abraço afetuoso de seu fiel


Paulo


PS. Nora manda-lhes saudações cordiais.

1980-06-28
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1980
Rio de Janeiro
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1980 en 28/06/1980

Sítio Pois é, 28 de junho de 1980


Meu caro Amigo,

Estou sentindo falta de suas notícias. Entre seus mil afazeres de político, advogado, ensaísta e –last but not least- poeta terá um momento livre para informar-me de sua saúde e da de D. Pilar? Terá publicado alguma obra nova depois de Cen chaves de sombra? Já foram publicados seus artigos sobre seus saudosos amigos Lorenzo Varela e Luis Seoane? Aguardo-os.
Antigamente o Amigo vinha de vez em quando ao Brasil. Não está em seus projetos uma visita ao Rio? Definitivamente instalados em nossa casa de campo, gostaríamos tanto, Nora e eu, de que o Senhor e D. Pilar passassem algum tempo conosco. Ficamos aqui a duas horas e meia do Rio, a quase 1000 metros de altitude, num clima agradável e num lugar bonito. Nova Friburgo foi fundada há 150 anos por imigrantes suíços que se instalaram aqui por acharem a paisagem semelhante ás de seu pais de origem. Aqui temos instalações contíguas para os amigos e um dos nossos prazeres é recebê-los. Note, por favor, o meu telefone daqui (0245) 22 4134.
Desde novembro, quando estive na Bulgária e na Hungria, não mais sai do Brasil. A não ser algumas conferências dadas no Rio, em S. Paulo e em Brasília, tenho permanecido aqui. Nora também acabou por aposentar-se na Faculdade de Arquitetura. Pela primeira vez na vida, podemos entregar-nos unicamente a afazeres que nos agradam.
O trabalho que mas tempo me toma é Mar de Histórias, uma grande antologia do conto mundial. Não sei se já lhe falei dessa obra, cuja publicação foi começada por José Olympio em 1945 e abandonada em 1963, ate quando saíram quatro volumes. Agora a publicação foi retomada pela Nova Fronteira. São previstos 15 volumes dos quais três publicados, o quarto ao prelo, o quinto em vésperas de ser entregue. Para que tenha uma ideia do trabalho, estou-lhe remetendo o 1º volume. Grande parte da seleção e da tradução é feita por mim, o resto e toda a revisão por Aurélio Buarque de Holanda Ferreira.
Entre os 350 contos do mundo inteiro que a obra há de conter gostaria de incluir polo menos um conto galego. Na precisa coleção de livros galegos com que você me presenteou em Vigo há volumes de poesia, de ensaios, de história literária, mas não contos. Existirá uma antologia do conto catalão? Ficar-lhe-ia muito grato pela remessa de um livro destes. Não havendo, serviriam também volumes individuais de contos, como, por exemplo, Cousas de Castelao, Contos do camiño e da rúa, de Otero Pedrayo ou Do caso que lle aconteceu ó Dr. Alveiros, de Risco.
Estou-lhe enviando também,na mesma encomenda, meu ultimo livro publicado, Não perca o seu Latim, adagiário de latim, que talvez o interesse também em qualidade de advogado. Espero que lhe chegue ás mãos em ordem.
Aqui me despeço do caro Amigo, à espera de suas sempre gratas notícias, pedindo-lhe que apresente minhas gratas lembranças a D. Pilar. Nora manda abraços para ambos.
Afetuosamente

Paulo


P.S. Finalizando, ocorre-me outro pedido: de um dicionário galego-português ou galego-espanhol, que receberia também com muita gratidão...