Biografía de Paulo Rónai Pal
1907- Budapest | 1992 Nova FriburgoA paixão pelo estudo de idiomas acompanhou Paulo Rónai desde menino, segundo confessou em um de seus escritos, sonho que ainda acalentava ao atingir a adolescência.Nesta época, estimulado por um professor que lhe dizia que as quinze primeiras línguas aprendidas seriam as mais difíceis, estava determinado a “assenhorar-se de um maior número de idiomas: vinte, trinta, ainda mais.” [Rónai (1975, p.17).] Dedicou-se a vários idiomas, não a todos os que sonhou, mas do seu sonho em vida, brindou-nos com um produtivo labor filológico.
Doutorou-se em filologia latina e línguas neolatinas, pela Universidade de Loránd Eötvös, Budapeste, em 1930, aos 23 anos. Paralelamente aos estudos na Universidade, exercia também atividades de tradução do latim e do francês para o húngaro. Em uma de suas viagens que fez à Paris (1931), estuda italiano, e aprimora as suas habilidades como tradutor. Desta vez, apresenta ao mundo francês poetas e romancistas húngaros. Dedica-se também à crítica literária, escrevendo para a Revue Mondiale. No retorno para Budapeste (1931) continua o seu trabalho como tradutor e professor de italiano, francês e latim em prestigiosos liceus, sendo nomeado, em um deles, titular de disciplina, em 1934, para ministrar aulas de italiano. Os anos subsequentes foram de muito trabalho de tradução e docência, estudos de línguas, mas não de muita tranquilidade do ponto de vista político. De origem judaica, já sentia a truculência nazista avançar sobre o seu país. Ao retornar de Paris, o cerco se fechava cada vez mais para os judeus. Foi convocado para o serviço militar em 1937, serviu por 6 meses. Com a atividade de tradutor, intuía que poderia conseguir deixar a Hungria.
Considerava-se acima de tudo “escritor nas horas vagas, professor por vocação e destino.” [Idem, p.65.] Foi em terras brasileiras, após emigrar para o Brasil em 1940, fugindo da perseguição nazista aos judeus, que exerceu por mais tempo à docência em vários colégios ou dando aulas a particulares. Em 1958, foi aprovado em concurso no renomado Colégio Pedro II, Rio de Janeiro, como professor titular de língua francesa. Entretanto, foi o ofício de tradutor que o ajudou a deixar a Hungria.
O seu interesse pelos estudos de línguas e literaturas proporcionou-lhe conhecer a tradução ao francês de Dom Casmurro de Machado de Assis. Impressionado pela qualidade literária da obra, deu início a sua incursão pelo estudo de autores brasileiros. Já tivera contato com autores portugueses, quando iniciara os seus estudos de língua portuguesa, por volta de 1928. Foi, através de uma coletânea intitulada As Cem Melhores Poesias Líricas da Língua Portuguesa, edição de Carolina Michaëlis e com a ajuda de um pequeno Dicionário Bilingue de Português-Alemão de Luísa Ey, que deu início a traduções nesta língua. Segundo relata, após seis horas de leitura, já traduzira para o húngaro um poema de Antero de Quental. [Ibdem, p.10.] Duas horas após a tradução, uma revista húngara aceitou publicá-la. Não parou mais. Sucederam-se várias leituras e estudos de Camões, Almeida Garret, entre outros. Ao estudar a língua portuguesa, comenta ter se surpreendido ao descobrir que o infinitivo pessoal não era prerrogativa da sua língua magiar, e nas suas palavras “abalou-me o sentido patriótico.” [Ibd., p.11.] Observa que sentiu falta das consoantes perdidas do português como em “lua, dor, pessoa, veia”, tentando entrever o latim que delas emanavam. Exasperava-se pelas diversas pronúncias de
Neste país, publica uma coletânea de poetas, intitulada Brazilia üzen: Mai Brazil Költök na qual incluía poetas brasileiros como Olavo Bilac, Cruz e Souza, Vicente de Carvalho, Alberto de Oliveira, Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Cassiano Ricardo, Adalgisa Ney, Jorge de Lima, Menotti del Picchia. [Martins (2020, p. 80).] O seu trabalho foi reconhecido no Brasil e graças ao amigo Ribeiro Couto, poeta, cônsul em Haia, e o Ministério das Relações Exteriores do Brasil na Hungria, recebeu um convite do governo brasileiro para emigrar.
Em terras brasileiras, um futuro prometedor
Em janeiro de 1941, em pleno verão, Paulo Rónai chega ao Rio de Janeiro. A perspectiva de uma nova vida, de uma nova língua deu-lhe esperanças de superar todo o horror que representou a sua situação na Hungria. Em terras brasileiras, edificou a sua vida: contraiu matrimônio com uma emigrante da Itália, Nora Tauz, natural de Fiume (à época, cidade italiana) em 1952. Tiveram 2 filhas, Cora e Laura Rónai. Nesta época, já havia conseguido trazer a sua mãe e parte de seus familiares para morar no Brasil. As agruras dos últimos anos vividos em Budapeste já faziam parte do passado.
Os contatos estabelecidos por correspondência, quando morava na Hungria, agora em solo brasileiro, poderiam ser efetivados pessoalmente. Assim, amizades duradouras e projetos intelectuais se fundiram a importantes escritores e escritoras do cenário nacional, entre eles Cecília Meireles, Carlos Drummond de Andrade, Jorge de Lima, Manuel Bandeira, Cassiano Ricardo, Menotti del Pichia, Adalgisa Nery [Martins (2020, p. 131-139).]. Outras amizades ocorreram de maneira inesperada. Foi ao se dirigir à Revista do Brasil com a intenção de publicar um artigo seu, que conheceu Aurélio Buarque de Holanda, à época, secretário da Revista do Brasil [Idem, p.131.]. A afeição de ambos pelo estudo da literatura favoreceria a execução de inúmeros projetos futuros. Era o início de uma profunda e duradoura amizade. O mesmo ocorreu a quem se transformaria em um amigo para toda a vida. Principal responsável pela vinda de seus familiares para o Brasil. Por causalidade, segundo nos relata Martins (2020)9, ao se dirigir ao gabinete de Relações Exteriores no Rio de Janeiro para solicitar pedidos de vistos dos seus, conheceu o então secretário do gabinete: era o escritor João Guimarães Rosa.
A sua produção foi muito importante em vários campos de estudos acadêmicos no Brasil. Elaborou dicionários de francês-português e português-francês. Editou livros didáticos e paradidáticos de latim e de francês. Escreveu artigos em jornais e revistas especializados. Foi com a obra Escola de tradutores (1952) que fundou as bases para o estudo da tradução no Brasil. Foi um dos fundadores da Escola Brasileira de Tradutores (Abrates) em 1974.
Valéria Gil Condé. 2021